
Às vésperas das prévias partidárias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assume publicamente sua homossexualidade em rede nacional, no programa do Pedro Bial, da Rede Globo de televisão. A revelação foi considerada oportunista por lideranças da diversidade por ter ocorrido em um momento estratégico do cenário político nacional em que as pré-candidaturas à presidência da República começam a ser desenhadas.
Eduardo Leite aparece como um dos nomes cotados para ser o candidato tucano à presidência em 2022 concorrendo com o governador de São Paulo, João Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
Em meio a críticas e elogios, a “saída do armário” do governador gaúcho é vista como uma estratégia de narrativa para tirar o foco de alguns possíveis pontos que podem atrapalhá-lo na corrida presidencial. Entretanto, nem o título de primeiro governador assumidamente gay da história do país poderá esconder o envolvimento dele em irregularidades ou apoio explícito ao presidente Jair Bolsonaro, conhecido pelas constantes demonstrações homofóbicas e racistas.
Socialistas parabenizam Leite
O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) declarou apoio ao governador gaúcho e tuitou uma mensagem de parabenizando-o pela coragem.
O ex-governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB) seguiu a mesma linha.
Presidenciáveis se manifestam em favor de Leite
O colega de partido e concorrente para a vaga de candidado à presidência no ninho tucano, o governador de São Paulo, João Doria, declarou apoio e respeito ao tucano gaúcho.
O presidenciável Luiz Henrique Mandetta também parabenizou o colega.
Ciro Gomes (PDT) foi outro a elogiar a iniciativa do governador gaúcho e reforçou que a diversidade ainda é um tabu no ambiente político partidário.
O apresentador Luciano Huck, um ex-presidenciável, engrossou o coro de que a declaração é um divisor de águas e que a revelação contribui para a inclusão da diversidade na democracia.
LGBT Socialista comenta episódio
A secretária Nacional do Segmento LGBT Socialista/ PSB, Tathiane Araújo, que também preside a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil considera o gesto de Leite um ato de coragem, mas ressalta o apoio do governador do Rio Grande do Sul a Bolsonaro.
“É inegável de que a postura de assumir a sexualidade no campo da política, além de um ato de coragem, contribui muito com as vidas e a cidadania LGBT, porém também temos que pensar que, no cenário político, ser LGBT e apoiar o Bolsonaro é não sair da sua zona de conforto e ter desprezo às vidas de quem mais precisa nesse momento. Os apoiadores deste projeto [atual governo] que só destrói o Brasil, tem uma dívida histórica com a população LGBT. Esperamos que Eduardo Leite conserte esses olhares no curso da sua trajetória política.”
Tathiane Araújo
E a governadora Fátima Bezerra?
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT-RN), não recebeu o mesmo destaque da imprensa por ser lésbica e estar ocupando o maior cargo do Executivo estadual.
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A governadora nordestina, aliada da comunidade LGBTQIAP+, é atuante nas pautas da comunidade e vem trabalhando em defesa dos direitos da diversidade.
O integrante da Executiva Nacional LGBT Socialista Flavio Brebis também comentou a diferença de tratamento pela imprensa diante da orientação sexual dos governadores.
“Infelizmente, no Brasil a homolesbotransfobia ainda está muito presente. Pessoas LGBT+ em cargos eletivos sofrem ataques cotidianamente. A Governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra, que é lésbica também não escapa da lesbofobia, mesmo estando em vigor o enquadramento dos atos de homofobia e transfobia nos tipos penais previstos na legislação, equiparando aos crimes de racismo (Lei 7.716/1989).”
Flavio Brebis
Para ele, no caso da governadora, os ataques estão minimizados em razão da sua atuação satisfatória como gestora e ainda não se declarou pré-candidata. “No entanto, temos que aguardar os próximos acontecimentos para as eleições de 2022”, completou.
Leite aciona a propaganda política
O ex-deputado federal Jean Wyllys (PT), que renunciou ao mandato e se auto-exilou temendo ameaças de morte, usou o Twitter para criticar a repercussão da declaração do tucano e alertar a sociedade da real intenção por trás da sua fala.
“Enquanto o gay recém-saído do armário não expressar por ATOS e novas palavras que se arrepende de ter apoiado alegre e explicitamente um homofóbico racista que se revelou genocida, sua saída do armário não será, para mim, fonte de alegria acrítica. Não adianta”, tuitou Jean Wyllys.
Para Wyllys, é nítido o oportunismo por trás da revelação que foi feita “sob medida num programa da TV Globo”, criticou. O ex-deputado repudiou ainda a auto comparação feita por Leite ao ex-presidente americano Barack Obama.
“Vejam como a imprensa comercial de direita gosta de destacar frases de efeito que, embora aparentemente afirmativas, no fundo são negativas e reforçam o estigma e a negação da identidade. Como não ver com crítica essa saída do armário? E essa comparação com Obama?”.
Vira-casaca
O presidente Jair Bolsonaro é um notório homofóbico, que já disse preferir um filho morto a um filho gay. Em 2018, o atual chefe da Nação recebeu o apoio declarado de Eduardo Leite no segundo turno do pleito. O governador gaúcho já disse não se arrepender de seu voto, no entanto, voltou atrás e agora defende uma investigação rigorosa a Bolsonaro no processo de impeachment.
O colunista do Socialismo Criativo Jones Manoel, historiador, professor, educador popular e youtuber, recordou em um tweet as recentes declarações de apoio feitas por Leite ainda em 2020.
Com informações do Uol, Folha e Portal Fórum