
Com o primeiro turno das eleições presidenciais na França programado para 10 de abril, o atual chefe de Estado e candidato mais forte, Emmanuel Macron, tem uma economia robusta como argumento forte para convencer o eleitorado de que as reformas de seu mandato foram bem sucedidas. Contudo, medidas que acarretam alta do déficit e da inflação são pouco populares entre eleitorado, que se sente abandonado.
De modo geral, a economia francesa se recuperou mais rápido do que se esperava da crise causada pela Covid-19, com um crescimento de 7% em 2021, o maior em 52 anos. Por sua vez, a taxa de desemprego foi a mais baixa em uma década, o poder aquisitivo dos consumidores cresceu e os investimentos estrangeiros pouco a pouco voltam a fluir.
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Desde que se elegeu em 2017, o ex-banqueiro de investimentos e ministro da Economia, Macron decretou um grande volume de reformas, relaxando as normas trabalhistas para facilitar a contratação e demissão, cortando a ajuda para desempregados e os impostos sobre capital e renda, tanto para pessoas físicas como jurídicas.
“As políticas de Macro têm sido bastante pró-empresariado, embora ele tenha tido que adaptar algumas delas devido às crises, inclusive os protestos dos ‘coletes amarelos’ e a Covid”, comentou à DW Mathieu Plane, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), sediado em Paris. “No total, a atratividade econômica da França no nível internacional definitivamente melhorou.”
Custe o que cu$tar…
Uma indicação dessa melhora é a próspera cena das startups francesas. No começo deste ano, Macron celebrou o 25º “unicórnio” — uma startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão —, do país, antes mesmo da meta pré-estabelecida, que era 2025.
“O ponto mais positivo do mandato de Macron é o dinamismo das corporações francesas, em termos de balancete, lucratividade e inovação”, afirma Patrick Artus, economista-chefe do Natixis Bank. “Há um volume gigantesco de dinheiro fluindo para o setor corporativo.”
O ano de 2021 foi de recorde para as companhias de tecnologia do país, que reuniram um capital de 11,6 bilhões de euros — um acréscimo de 115% em relação a 2020. Segundo especialistas, um fator para esse avanço foi também a estratégia de “custe o que custar” de Macron durante a pandemia da Covid-19, investindo em peso para preservar a liquidez das empresas e ajudá-las a manter seus funcionários.
Outro ponto positivo foi que, segundo especialistas, a crise da covid-19 — que expôs a forte dependência da França de fornecedores estrangeiros —, deu novo impulso aos planos de Macron de “reindustrializar“, encorajando as firmas a investirem na indústria nacional, em vez de depender das importações industriais da Ásia. Agora, Paris está fomentando setores estratégicos, como o de semicondutores, baterias elétricas e projetos de hidrogênio.
“Agora há a consciência de que o grande ponto fraco da França foi a desindustrialização que vimos ao longo dos últimos 40 anos e que não conseguimos deter. É importante reverter essa tendência”, diz Plane, embora ressalvando que “ainda é muito fraca” a participação do setor de manufatura na economia nacional, com cerca de 10% do PIB.
Artus concorda, acrescentando que manufatura e produção “mostraram muito poucos sinais de pregresso” durante os cinco anos do mandato de Macron, apesar dos cortes fiscais e reformas. Além disso, um déficit comercial crescente gera apreensão.
…e custou caro
Entrentanto, as diversas ações e medidas tomadas pelo presidente francês “cobrou o seu preço“. Após onda de gastos públicos e cortes fiscais, a dívida nacional foi catapultada a um recorde de 115% do PIB.
Mesmo reconhecendo o mérito das reformas de Macron por reavivar empresas, muitos se perguntam se os ganhos econômicos reverteram para os cidadãos. Enquetes entre o eleitorado citam como a principal preocupação a perda de poder aquisitivo decorrente da inflação. Os aumentos relacionados à guerra na Ucrânia aprofundaram ainda mais essas apreensões.
Outro ponto citado por Patrick Artus é que, apesar da criação de cerca de 700 mil empregos no setor, em 2021, muitos são não qualificados e de baixos salários. “É verdade que muitos franceses que trabalham no varejo, restaurantes, limpeza ou logísticas são pobres.” Por outro lado, dados mostram que o governo tem gasto volumes gigantescos para assistir esses cidadãos, por último com 15 bilhões de euros a fim de amenizar o golpe da alta dos preços de energia.
Agora, com um cenário indefinido sobre o resultado do pleito, Macron aposta em seu histórico econômico, tendo recentemente declarado que manterá as reformas para reconfiguração da economia, caso obtenha um segundo mandato. A prova final caberá às urnas, a partir de 10 de abril.
Com informações da agência DW