
A CPI da Pandemia no Senado ouve nesta quarta-feira (29) o depoimento do empresário bolsonarista Luciano Hang. Ao chegar à Casa, vestido com o seu clássico paletó com as cores do Brasil, o empresário afirmou que é um “militante do Brasil” e que está a disposição da Comissão pelo tempo que for necessário.
Leia também: Depois de depoimento estarrecedor, CPI não acabará mais na próxima semana
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, ao ser questionado pela imprensa sobre o personagem de Hang, declarou que ele é um “bobo da corte”.
“É um depoimento normal como qualquer outro, ele [Luciano Hang] vai ter que se adequar às regras da Comissão Parlamentar de Inquérito. Esse tipo de personagem sempre existiu na história doa Brasil, não é incomum que exista hoje, é uma espécie de bobo da corte que vive da sabujice eterna para prestar serviços ao poder e ganhar dinheiro.”
Renan Calheiros
Em seguida, Renan Calheiros afirmou que ele tem participação direta no impulsionamento de fake news negacionistas sobre o coronavírus e o tratamento precoce contra a covid. “Ele tem um envolvimento óbvio nas fake news, nos impulsionamentos, no patrocínio, no incentivo à mentira, ele tem um envolvimento óbvio no gabinete paralelo”, afirmou.
“E ele, negacionista que é, e quando viu oportunidade de ganhar dinheiro com vacina, se entregou a esse negócio juntamente com o Carlos Wizard. Eles se envolveram diretamente nisso, no caso da Precisa Medicamentos”, destacou Calheiros.
Quando questionado sobre a certidão de óbito da mãe de Luciano Hang, Regina, o relator da CPI afirmou que eles já têm “todas as provas” de que foi alterado. “Temos a certidão de óbito, temos o prontuário, nós sabemos de que forma ela chegou [na Prevent Senior], não há mais nenhuma dúvida em relação a isso”, declarou o relator da Comissão.
“A dúvida é que o médico escreveu no prontuário que ele sabia de tudo e que teria orientado os médicos para obscurecesse [alterassem o óbito], o que aconteceu, para não de prestigiar o tratamento precoce”, finalizou o senador.
O dono da rede de lojas de departamento Havan é acusado de pertencer ao chamado “gabinete paralelo”, grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido) suspeito de aconselhar o presidente em relação à pandemia de covid-19, promovendo ideias sem comprovação científica, como o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina e ivermectina.
Acompanhe no Socialismo Criativo
Relator dividirá interrogatório em três etapas
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), informou que dividirá o interrogatório em três partes, começando por perguntas a serem respondidas com “sim” ou “não”. Em seguida, o relator vai fazer uma acareação de Luciano Hang com o que ele mesmo falou em outras oportunidades, por meio de vídeos e áudios. Na terceira parte, exibirá outros documentos.
Contarato critica exibição de vídeo e pede remoção do conteúdo
Em questão de ordem, Fabiano Contarato (Rede-ES) criticou a exibição, durante a apresentação inicial do depoente, de um vídeo que, segundo o senador, seria propaganda institucional da rede comercial pertencente a Luciano Hang. Ele pediu que o conteúdo seja retirado dos registros dos canais de comunicação do Senado Federal.
Omar Aziz (PSD-AM) classificou a exibição como “lapso da presidência” e disse que não quis interromper a exibição para não tumultuar o início do depoimento.
Hang diz que defende vacina e não é ‘negacionista’
Em sua fala inicial, Luciano Hang disse que não é “negacionista” e que sempre defendeu a vacinação. O empresário afirmou ter doado 200 cilindros de oxigênio e outros insumos para pacientes no estado do Amazonas e defendido a compra de imunizantes pela iniciativa privada.
“Não sou negacionista. Nunca neguei ou duvidei da doença. Tanto que minhas ações não ficaram nó no discurso. Mandei 200 cilindros de oxigênio para Manaus, no valor de R$ 1 milhão. Respiradores, máscaras, camas, utensílios. Não sou nem nunca fui contra vacina. Tanto que disponibilizei todos os nossos estacionamentos como pontos de vacinação. Além disso, juntamente com outros empresários, fizemos campanha para que a iniciativa privada pudesse comprar [vacinas] para doar e ajudar o país a acelerar o processo de imunização”, afirmou.
Hang disse ainda que é “acusado sem provas e perseguido” por expressar opiniões. O empresário afirmou que não conhece e não faz parte de um “gabinete paralelo” e negou ter financiado esquemas de fake news.
Para Omar, Luciano Hang pode contribuir com a CPI
Antes do início da reunião, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), falou com jornalistas sobre os fatos que levaram a comissão a convocar o empresário Luciano Hang para depor. Omar afirmou que não tem intenção de pedir a prisão de Hang, até porque espera que, como cidadão brasileiro, o empresário possa contribuir com a CPI. Segundo Omar, o fato de Hang não ter procurado obter um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) pode ser uma indicação de que ele esteja disposto a dizer a verdade.
CPI tratará Hang com respeito, mas não tolerará desacato, diz Randolfe
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o empresário Luciano Hang será tratado de acordo com a lei e também terá que se portar dessa forma.
“A CPI não tolerará desacato, não tolerará que, na condição de testemunha, se falte com a verdade”, afirmou, informando que a presidência da comissão vai utilizar os mecanismos que o inquérito policial dispõe para isso.
Para Randolfe, a CPI não pode cair na “cilada” das provocações, da intimidação e do tumulto.
“Não podemos perder a serenidade nesta reta final”, avisou.
Assista à entrevista dada por Randolfe na terça-feira à tarde em que comenta o que espera do depoimento e contextualiza as investigações a comissão.
Com informações da Agência Senado