
“A mamata acabou nesse governo”, disse Mário Frias, o secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, em dezembro do ano passado durante evento no Palácio do Planalto. Contudo, o discurso acalorado envelheceu como “leite fora da geladeira” e Frias se vê com a imagem desgastada devido a viagens com agendas vazias feitas com dinheiro público por ele e seus subordinados, além da nomeação de uma amiga para um cargo em sua pasta.
Um cunhado do secretário também ocupa um cargo na Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) e chegou a receber auxílio emergencial.
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Sem grandes ações promovidas por sua pasta durante a pandemia, o secretário é a “imagem e semelhança” do governo de Jair Bolsonaro: ineficiente, mas com enormes gastos. E até o Planalto já sinaliza a insatisfação com a sua gestão. Confira os acontecimentos que esquentaram o clima na secretaria de Frias e tensionaram a relação com o mandatário:
Prova nº1: viagem a Nova York
O fato mais significativo da atual crise foi sua ida a Nova York em dezembro para encontrar o lutador bolsonarista de jiu-jítsu Renzo Gracie. O secretário gastou R$ 39 mil para ficar na cidade por quatro dias para apenas três reuniões. A despesa, paga com verba pública, é mais de 13 vezes o atual teto de cachê para artistas na Rouanet, de R$ 3 mil.
Frias viajou acompanhado de seu secretário-adjunto, Hélio Ferraz, que gastou outros R$39 mil, de acordo com dados do Portal da Transparência.
As despesas causaram espanto e o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu a abertura de investigação e mais de uma ação na Justiça questiona a permanência do secretário no cargo.
Prova nº2: viagem a Veneza
Desde que assumiu o cargo, em junho de 2020, Frias realizou 26 viagens, sendo esta para Nova York a mais cara. Em seguida vem um trajeto para Roma, em agosto do ano passado, quando ele participou da Conferência dos Ministros da Cultura do G20. O passeio custou pouco mais de R$30 mil.
Depois vem sua ida para a Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, em maio do ano passado, ao custo de R$21.218 para a semana em que ficou na Itália. O evento homenageou Lina Bo Bardi, uma das mais importantes arquitetas brasileiras, que projetou marcos como o Masp, o Sesc Pompeia, o Teatro Oficina, entre outros.
Prova nº3: viagem do chefe da Rouanet
Algumas semanas após a turnê de Frias por Nova York, seu braço direito, André Porciuncula, gastou R$20 mil numa viagem de cinco dias a Los Angeles para apenas duas reuniões. O ex-PM hoje controla a Lei Rouanet.
Os gastos podem ter sido triplicados, já que ele embarcou com mais dois assessores da pasta, Gustavo Torres, do Ministério do Turismo, e o secretário do Audiovisual, Felipe Pedri. Frias só não viajou para Los Angeles com a equipe porque testou positivo para a covid-19. Porciuncula embarcou em classe executiva e ficou num hotel com diária de R$2.364.
Prova nº4: cunhado na Embratur
No meio de viagens e passeios, veio à tona a informação de que o cunhado de Frias, Christiano Camatti, está na folha de pagamento da Embratur. A Embratur é uma autarquia do Ministério do Turismo, pasta à qual Frias é subordinado, responsável pela promoção de pontos turísticos brasileiros no exterior.
Entre abril e dezembro de 2020, Camatti recebeu auxílio emergencial do governo, no valor total de R$ 4.200, de acordo com dados do Portal da Transparência.
Na época, ele já era sócio de uma metalúrgica em Santa Catarina, a S&C Siderurgia e Metalurgia, com a irmã, Juliana Frias. Ela se associou em 2004 e ele, em 2005. Publicitária, Juliana é esposa do secretário especial da Cultura.
Prova nº5: nomeação de amiga
Mário Frias também nomeou a noiva de um aliado para um cargo em sua secretaria. Lais Sant’Anna Soares foi escolhida para o cargo de coordenadora de inovação no departamento de Empreendedorismo Cultural em 1º de fevereiro, quando era namorada do deputado federal bolsonarista Carlos Jordy, do PSL do Rio de Janeiro.
Prova nº6: empresa com sede em caixa postal
Em dezembro do ano passado, o secretário contratou sem licitação, por R$3,6 milhões, uma empresa sem funcionários e que tem sede em uma caixa postal dentro de um escritório virtual.
A empreiteira virtual é de propriedade de Danielle Nunes de Araújo, se inscreveu no programa de auxílio emergencial do governo e recebeu o benefício, no total de R$ 3,9 mil, por oito meses seguidos, segundo o jornal O Globo.
Saída de Frias
A saída de Mário Frias é dada como certa nos bastidores do governo, de acordo com a Folha de S. Paulo. A mais cotada para assumir seu lugar é a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Larissa Peixoto, amiga pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Frias deve concorrer a deputado nas eleições deste ano, mas sua saída pode ser antecipada devido às crises.
Com informações do Estadão.