
Relatório da Rede de Observatórios da Segurança compilou informações sobre violência em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Pernambuco. Os dados demonstram como negros são as principais vítimas de violência no país. Dos mortos pela polícia, 75% são negros (pretos e pardos), indica o estudo. Entre as vítimas de feminicídio, 61% são mulheres negras.
Operações policiais violentas são justificadas para combater crimes, mas há indícios de prática racializada. Assim, o racismo estrutural revela a face institucional na política de estado.
A taxa geral de homicídios é de 28 pessoas a cada 100 mil no Brasil. Essa mesma proporção supera 200 entre homens negros na faixa etária de 19 a 24 anos. “Meninos negros das periferias aprendem a ter medo da polícia desde pequenos”, aponta o estudo.
“A construção histórica de um estereótipo racializado que configura o criminoso guarda conexão com a ideia das classes perigosas do início do século passado e com o projeto civilizatório eugênico de embranquecimento do país e de eliminação física do outro”, afirma o relatório.
O antropólogo e especialista em segurança, Luiz Eduardo Soares, é citado no estudo. Segundo trecho do livro do especialista, “os policiais batem suas metas prendendo diariamente jovens negros” em operações nas favelas e periferias.
Soares explica no livro que, por causa dessa política “se desenvolve uma onerosa e inútil estratégia de guerra às drogas, que na prática é uma guerra contra as periferias, e que enche as prisões de pequenos vendedores do tráfico, fortalecendo as facções”.
Analisando mais de sete mil textos, a Rede constatou que a palavra investigação aparece apenas 373 vezes e inteligência, só 25 vezes.
Análises da violências contra negros
A Rede de Observatórios da Segurança é um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) lançado em 28 de maio de 2019 sob coordenação geral da cientista social Silvia Ramos.
Entre 1º de junho de 2019 e 31 de maio deste ano, os pesquisadores analisaram notícias divulgadas pela imprensa e informações difundidas pelas redes sociais em busca de relatos sobre violência e segurança pública nesses cinco Estados.
Dos 12.559 registros, apenas 50 se referiam ao racismo ou à injúria racial. O relatório faz crítica à imprensa por raramente registrar a cor das vítimas.
Mulheres negras são as maiores vítimas do feminicídio

As mulheres negras engrossam os números da violência de gênero, permanecendo como maiores vítimas de feminicídio. Foram verificados 1.408 casos dessa natureza nos cinco estados monitorados, sendo 454 feminicídios e 516 tentativas de feminicídio, correspondendo a 68% do total, relata a Rede.
As ocorrências estão divididas entre tentativas de feminicídio/agressões físicas, feminicídios, violência sexual/estupros, homicídios, agressões verbais, tortura, sequestros, balas perdidas, cárcere privado, ameaças/coação, tentativas de homicídio e outros.
Quanto aos motivos, os dados mostram 319 casos motivados por brigas, 123 por término de relacionamentos, 68 por ciúmes e 28 por crime de ódio – aquele praticado contra uma pessoa por ela pertencer à determinada etnia, cor, origem, orientação sexual e, neste caso, identidade de gênero.
A maior parte dessas agressões é praticada por pessoas próximas: 466 casos por companheiros e ex-companheiros; 152 por namorados e ex-namorados; e 68 por outros familiares , segue o texto.