
Candidatos de diferentes espectros políticos vêm direcionando agendas e alianças de campanha de olho no eleitorado evangélico, grupo que corresponde a quase um terço da população brasileira, segundo pesquisas. Pelo menos sete capitais têm candidaturas que concentram a aprovação ou a rejeição dos evangélicos de forma distinta à observada nas intenções de voto gerais, segundo o Ibope.
Para analistas, embora a preferência evangélica tenha de ser analisada junto a fatores socioeconômicos e políticos de cada capital, a coesão em torno de candidatos que defendem bandeiras conservadoras é um ponto comum em diferentes regiões.
Público evangélico no Rio e São Paulo
No Rio e em São Paulo, Marcelo Crivella e Celso Russomanno, ambos do Republicanos, partido próximo à Igreja Universal, mantêm alta intenção devotos entre eleitores que se declaram evangélicos, mesmo com dificuldades para avançar em outros segmentos.
Crivella, que é bispo licenciado da Universal, chega a 24% entre evangélicos, segundo o Ibope, percentual duas vezes maior se comparado a suas intenções gerais (12%). Mesmo com queda de sete pontos no Datafolha desta semana, Russomanno conserva 31% do apoio evangélico, o dobro do seu percentual entre católicos.
Bruno Covas (PSDB), principal adversário de Russomanno na disputa paulistana até agora, vem tentando aumentar sua inserção no mundo evangélico. Covas participou do culto de aniversário do pastor José Wellington, da Assembléia de Deus, no último dia 5, em evento que também contou com a presença de Bolsonaro. Já a proximidade de Eduardo Paes (DEM) com lideranças evangélicas no Rio levou a uma posição de neutralidade nomes como o bispo Abner Ferreira e o pastor Silas Malafaia, também próximos a Crivella.
Evangélicos do Nordeste
Em Fortaleza, o líder nas pesquisas, Capitão Wagner (PROS), chega a 39% das intenções de voto entre evangélicos, segmento em que abre uma de suas maiores vantagens em relação a Luizianne Lins (PT) e Sarto Nogueira (PDT), ambos com 16%, segundo o Ibope. Líder de uma greve de policiais no Ceará em 2012, Wagner já recebeu apoio explícito do presidente Jair Bolsonaro nesta eleição.
Já em Maceió, a preferência da maioria dos evangélicos é por João Henrique Caldas, do PSB, partido que adota um posicionamento de centro-esquerda. JHC, como é conhecido, tem 31% no segmento, de acordo com o Ibope, contra 22% de Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Nas intenções gerais, Mendonça aparece numericamente à frente do candidato do PSB.
Segundo a socióloga Christina Vital, professora da UFF e colaboradora do ISER (Instituto de Estudos Sobre Religião), estudos que traçam o perfil recente de candidaturas à direita coincidem com a preferência observada entre os evangélicos, segundo as pesquisas do Ibope, por candidatos homens, brancos e jovens.
“A face da direita no Brasil se transformou nos últimos anos. É verdade que candidatos conservadores se apropriaram do tema da família como se fosse próprio da direita. Contudo, há uma importante mobilização de candidaturas evangélicas à esquerda nestas eleições, e estamos acompanhando uma defesa da família em termos de superação da desigualdade, inclusão e justiça social”, avalia Vital.
Em casos como Maceió e Recife, onde João Campos, também do PSB, mantém mais de um terço dos votos de evangélicos, a especialista avalia que há uma “superação da rejeição à esquerda” a partir de “elementos singulares”.
JHC, que é membro da Igreja Internacional da Graça de Deus, tem buscado transmitir posições de diálogo com o governo federal em sua propaganda. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, observa que capitais como o Recife têm concentração evangélica nas classes C, D e E, o que dilui o apego a temas morais em questões socioeconômicas.
“Não é um eleitor reacionário, mas sim um eleitor que tem aspectos devida conservadores, o que exige maior cuidado para tratar certas questões, senão você cria resistências desnecessárias”, diz Siqueira.
Com informações do jornal EXTRA.