
Após o Senado Federal rejeitar a indicação do embaixador Fabio Mendes Marzano para o cargo de delegado permanente do Brasil nas Nações Unidas em Genebra, na Suíça, aumentou a pressão pela saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
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O placar surpreendeu o Itamaraty e demonstrou que os senadores se juntaram a integrantes da ala militar e representantes do agronegócio contra Araújo. O estilo ideológico do chanceler é visto como um entrave para o avanço em acordos internacionais, além de uma ameaça ao comércio exterior.
Com 37 votos contra e 9 a favor, Marzano recebeu menos votos do que os 13 conquistados após sabatina na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. O revés começou ainda na sabatina, após o embaixador se recusar a responder uma pergunta da senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO).
Ex-ministra da Agricultura, Kátia queria ouvir as impressões do embaixador sobre a tese corrente entre diplomatas e ruralistas de que o desmatamento na Amazônia é usado como pretexto pelo agronegócio estrangeiro para barrar o Acordo Mercosul-União Europeia.
Marzano alegou que o tema não era de sua alçada, o que não foi recebido em bom tom pela senadora. Kátia, que também presidiu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), disse que o Itamaraty virou uma “casa de terrores”, onde os diplomatas não podem mais opinar. Os demais senadores tomaram a negativa como sinal de desprezo aos congressistas.
Araújo sob fritura no Planalto
O vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Neto, e o secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, também estariam forçando a fritura de Araújo. Todos são militares.
Diplomatas avaliaram que a expressiva votação contra Marzano, secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania, não foi só uma retaliação deliberada a Araújo como um recado a Bolsonaro de que o chanceler precisa ser substituído.
A seu favor, o chanceler conta apenas com o apoio da ala ideológica do governo, da militância virtual e do deputado Eduardo, filho “03” do presidente.
“O recado foi dado ao Bolsonaro de que eles (senadores) não estão gostando e querem colocar o Ernesto contra a parede. Há uma conjuntura favorável para acertarem o Ernesto, como os telegramas do Nestor sobre a eleição americana. Estão insatisfeitos com as topadas na China. Foi mais um prego naquilo que querem que se torne o caixão do Ernesto”, disse a embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros.
Com informações do Estadão