
O deputado estadual Douglas Garcia (PTB), um dos principais aliados da família Bolsonaro em São Paulo, disse à Justiça que Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) entregou a cópia de um dossiê com militantes antifascistas para a Embaixada dos Estados Unidos. As informações são da coluna do jornalista Rogério Gentile, no UOL.
Garcia foi condenado na semana passada a pagar R$ 20 mil de indenização a uma mulher que teve seu nome e dados particulares inseridos nessa listagem de pessoas que, de acordo com postagens feitas pelo próprio parlamentar, seriam “terroristas”.
O fato foi revelado pela advogada de Garcia, Maria Laura Milhomens Lopes, ao juiz Guilherme Ferreira da Cruz, titular da 45ª Vara Cível da capital.
Em um vídeo postado no Twitter, Douglas Garcia afirmou que nunca delatou o aliado e que a ação foi feita em conjunto com Eduardo Bolsonaro, para que a Embaixada americana tivesse “ciência” sobre “tipo de gente que tenta entrar lá” [nos Estados Unidos].
“A ação conjunta que fiz com Eduardo Bolsonaro e Gil Diniz foi para combater o crime, esquerdistas estão espantados com a novidade pois estão acostumados a ver parlamentares de seus partidos se unirem para cometer os crimes”, escreveu em seu perfil.
Dossiê ‘paralelo’
O documento é diferente do relatório do Ministério da Justiça, revelado pelo UOL no fim de julho, que listou 579 servidores e professores a favor do antifascismo.
O dossiê, feito informalmente, não é resultado de investigação oficial. O deputado pedia nas suas redes sociais que denúncias fossem encaminhadas e as acrescentava na listagem, de acordo com informações do processo judicial.
O documento tem 56 laudas e inclui dados pessoais, inclusive fotografias, de quase mil pessoas. O deputado negou à Justiça que tivesse participado da elaboração e da divulgação do dossiê, mas admitiu que o encaminhou para autoridades.
“Os grupos subversivos e violentos ‘antifas’ atuam em diversos países e, em todos eles, seguem o mesmo modus operandi, que consiste no uso de violência e outros crimes para intimidar, calar e eliminar fisicamente grupos ou indivíduos não alinhados à sua visão política”, afirmou o deputado, à Justiça.
“Agressão a Bolsonaro”
Em sua petição, ele disse que esse grupo tem feito convocações com o objetivo de “agredir” apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, aos domingos, fazem manifestações “pacíficas e ordeiras” na avenida Paulista, em São Paulo.
Na sua decisão, o juiz Guilherme Ferreira da Cruz, da 45ª Vara Cível Central da Capital, disse que o deputado não apresentou prova alguma de que as pessoas relacionadas no dossiê atuem com violência, pratiquem crimes ou terrorismo.
O juiz afirmou também não haver dúvida de que Garcia catalisou e sistematizou o dossiê, com base em postagens feitas pelo próprio deputado na internet.
“A elaboração de dossiês não se relaciona com o exercício normal e regular do mandato legislativo, cujo titular deve se mostrar à sociedade prudente e equilibrado”, disse. O juiz cita ainda que, em tom de deboche, o deputado estadual afirmou que as pessoas relacionadas seriam impedidas de visitar a Disneylândia, referindo-se ao fato de que a listagem foi encaminhada para a embaixada americana.
Garcia afirmou no processo que “o protocolo junto à Embaixada dos Estados Unidos foi feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro”.
Em tese, os Estados Unidos podem, com base no dossiê, impedir a entrada das pessoas citadas ali, negando o visto ou mesmo revogando-o, se assim acharem que é o caso. Trata-se de um poder discricionário. Garcia foi condenado a pagar R$ 20 mil, mas cabe recurso à decisão. Procurado pelo UOL, Eduardo Bolsonaro não respondeu aos questionamentos enviados para o seu email.
Com informações do UOL