
Em entrevista ao The Intercept Brasil, o deputado bolsonarista Delegado Wladir (PSL-GO), afirmou que a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara teve um alto custo: R$ 10 milhões por parlamentar. Tudo por meio do orçamento secreto.
A compra de apoio parlamentar teria sido por meio das emendas de relator, que não têm critérios claros de distribuição, privilegia os apoiadores do governo e foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
São R$ 18,5 bilhões, em 2021, sem que seja possível saber qual parlamentar decidiu o destino do dinheiro.
De acordo com a reportagem, Waldir diz ter recebido a oferta de R$ 10 milhões em emendas em troca do voto em Lira. Pode ter sido até mais.
Waldir, em dado momento da conversa com o The Intercept, disse que outros R$ 10 milhões foram acordados no mesmo período, mas ele não soube precisar se também em troca do voto em Lira ou da aprovação de algum outro projeto à época.
Uma vez no comando da Câmara, Lira passou a usar as emendas de relator para se tornar uma espécie de primeiro-ministro informal – ou o chefe do governo semipresidencialista que ele defende.
Sem a transparência devida, as emendas secretas se tornaram peças de barganha para que Lira aprove projetos de interesse do governo ou dele mesmo.
Apesar das promessas, Waldir afirma não ter recebido os milhões negociados. Ele conta que a verba foi bloqueada depois de um racha no PSL, em 2019.
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Em outubro daquele ano, a bancada do partido vivia uma guerra interna. Waldir acusou Bolsonaro de tê-lo destituído da liderança para colocar ali o filho, Eduardo Bolsonaro.
Em uma reunião interna, Waldir chamou Bolsonaro de “vagabundo” e disse que “implodiria” o presidente. A crise se agravou e culminou com a saída de Jair Bolsonaro da sigla, em novembro.
Delegado Waldir e o poder de Lira
O repórter Guilherme Maziero, conta que a sinceridade de Delegado Waldir impressiona, especialmente, em um assunto que os parlamentares costumam evitar.
Com as emendas do relator, afirma a reportagem, o controle dos investimentos do governo federal saiu dos ministérios e ficou concentrado nas mãos de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD de Minas Gerais.
“Ele é quem carrega o governo. Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira”, crava o deputado.
Waldir acusou um desafeto, Vitor Hugo, também do PSL de Goiás, de receber R$ 300 milhões em emendas secretas.
isse, ainda, que deputados da oposição também receberam verbas do orçamento secreto após negociarem com Lira.
Antes do orçamento secreto
Se o orçamento secreto é uma novidade, a troca de votos por emendas, não. Waldir me disse que, ao votar a favor da reforma da Previdência, em 2019, cada parlamentar teria direito a R$ 20 milhões em recursos do governo federal. O goiano, por ser líder do PSL, levou o dobro.
Como na época ainda não existia a emenda de relator, o dinheiro seria liberado pelo governo federal a partir de verbas de uso discricionário – ou seja, em que o Executivo pode decidir a aplicação.
O deputado revelou ainda que o sistema teve participação importante de um general de quatro estrelas da reserva, Luiz Eduardo Ramos, secretário-geral da Presidência da República. Ramos foi ministro-chefe da Casa Civil e da Secretaria de Governo e responsável pela articulação política com o Congresso.