
A primeira deepfake após o início da propaganda eleitoral, na última terça-feira (16), começou a circular. Uma montagem com apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos, em que noticiaria uma pesquisa falsa de intenções de voto circula em grupos de WhatsApp, no Twitter e no YouTube.
Deepfake é um recurso que permite a edição de vídeos hiper-realistas, que manipulam voz e imagem de modo a parecerem reais. Muitos são tão bem feitos que podem passar desapercebidos.
Na montagem em questão, Renata Vasconcellos aparece noticiando uma pesquisa falsa em que Jair Bolsonaro (PL), disseminador contumaz de fake news, apareceria em primeiro lugar, com 44% das intenções de voto e o ex-presidente Lula (PT), líder disparado em todas as pesquisas reais, estaria com 32%. Resultado exatamente oposto do que divulgou o levantamento mais recente, feito pelo Ipec que mostra Lula om 44% e Bolsonaro com 32%.
De acordo com a jornalista Cristina Tartáguila, colunista do Uol e fundadora da agência de checagem Lupa, monitoramento de redes realizado na tarde do dia 17, identificou que além do WhatsApp, a informação falsa já circulava nas redes abertas. De acordo com ela, uma das versões encontradas no Youtube teve mais de 1.400 visualizações em apenas 12 horas e já confundia eleitores.
À jornalista a TV Globo confirmou que o vídeo foi adulterado e disse que o Ipec, citado na deep fake, iria denunciar o vídeo no Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério Público Eleitoral (MPE).
Leia também: Deepfakes: É falso vídeo de Bonner xingando Lula
O que são as deepfakes
A tecnologia que permite criar deepfakes já existe há alguns anos. Em 2018, a tecnologia já tinha sido usada, uma vez, contra Lula (no vídeo falso ele supostamente pedia votos em Bolsonaro).
O jornalista Bruno Sartori é conhecido nas redes sociais por fazer vídeos engraçados e debochados usando essa tecnologia. Ele é um dos que costumam fazer alertas justamente sobre o perigo desses vídeos ao serem tão facilmente confundidos com a realidade.
Além disso, usar as ferramentas para enganar, caluniar e mentir sobre candidatos é crime eleitoral, além de covardia e desonestidade.
Em fevereiro deste ano, o jornalista publicou um vídeo que fez bastante sucesso para alertar sobre o risco do uso de deepfakes na política. Nas imagens, um homem com o rosto de Lula e a voz de Lula (ambos, criadas por computador, para imitar rosto e voz reais) passeia num jardim com um pote de paçoca e reclama que a embalagem faz crer que tem mais paçoca ali do que de fato tem. Assista.
Mesmo para olhos mais experientes pode ser difícil detectar a montagem.
Outro exemplo de deepfake que viralizou foi um vídeo no qual o DJ Alok usa a tecnologia, trocando de rosto diversas vezes numa bancada de telejornal. Bonner é, de novo, a “vítima” aqui. Alok se passa pelo apresentador, depois por Whindersson Nunes e por Silvio Santos, até finalmente aparecer e dar seu recado: cuidado com deepfakes.
Cristina Tartáguila lembra que esse tipo de vídeo surgiu na pornografia, com uso do rosto de pessoas famosas em atores e atrizes pornô. Não tardou a chegar na política.
Nos Estados Unidos, a deputada Nancy Pelosi foi vítima de um desses vídeos. Nas imagens, ela aparecia bêbada durante uma entrevista para um canal de TV. Os responsáveis nunca foram identificados e o único trabalho deles foi desacelerar o vídeo antes de fazê-lo chegar a milhares de pessoas.