
Enquanto o preço do barril do petróleo brent chegando a US$ 139 na noite de domingo (6), após o secretário do Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciar eventuais sanções sobre o petróleo russo, integrantes do alto escalão do governo Joe Biden negocia uma eventual reabertura de mercado do produto na Venezuela, de Nicolás Maduro.
A comitiva dos EUA teria chegado a Caracas no sábado (5) e se reuniu com integrantes do governo Maduro neste domingo para discutir uma potencial flexibilização das sanções ao petróleo, segundo o site Spectator Index, especializado no mercado financeiro.
A reunião ocorreu horas depois de Blinken anunciar a nova estratégia dos EUA contra a Rússia na guerra da Ucrânia.
“Estamos agora em discussões muito ativas com nossos parceiros europeus sobre a proibição da importação de petróleo russo para nossos países, enquanto, é claro, ao mesmo tempo, mantemos um fornecimento global estável de petróleo”, disse o secretário dos EUA, provocando uma explosão no já crescente preço do petróleo no mercado internacional.
Os EUA cortaram relações diplomáticas com Maduro em 2019, quando a Casa Branca de Donald Trump apoiou uma tentativa mal sucedida de golpe, comandado por Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país.
A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo e há interesse dos EUA em reatar os laços diante do confronto com a Rússia, que seria agora o alvo das sanções.
O primeiro encontro entre autoridades venezuelanas e dos EUA ocorreu no sábado, mas teria terminado sem acordos.
Além do petróleo, Biden estaria buscando aumentar a influência na América Latina – especialmente em países produtores de petróleo, como Venezuela e Brasil – para afastar líderes do continente das relações com Vladimir Putin no que é visto como uma eventual nova guerra fria.
Petróleo em alta e bolsa em queda
Os preços do petróleo operam em forte alta, a cotação do gás disparou na Europa e as Bolsas de Valores europeias e asiáticas operam em queda diante de o temor de uma escalada nas sanções ocidentais à Rússia pela invasão da Ucrânia. O barril do tipo brent chegou a US$ 139 na madrugada desta segunda-feira, um recorde.
Os Estados Unidos informaram no domingo (6) que estão negociando com a Europa um bloqueio ao petróleo russo. A compra de petroleo e gás da Rússia não foi alvo das sanções iniciais justamente pelas consquências que tal medida teria nos preços internacionais. A Rússia responde por cerca de 8% do fornecimento mundial de petróleo.
Após bater na cotação de US$ 139 na madrugada, maior cotação desde o recorde de US$ 147,50 de julho de 2008, o preço do petróleo Brent perdeu força. Por volta de 11h20, no horário de Brasília, o contrato para maio do petróleo tipo Brent subia 2,37%, negociado a US$ 120,91, o barril. Já o contrato para abril do tipo WTI avançava 1,33%, cotado a US$ 117,22, o barril, após já ter ultrapassado os US$ 120.
Na Europa, os preços de referência do gás saltaram 79%, para 345 euros por megawatt-hora. A Rússia é responsável por 40% das importações de gás europeu.
No caso do petróleo, contratos de curto prazo de opções de compra, que não são os mais negociados e por isso não são a principal referência, já apontam para o barril do tipo brent cotado a até US$ 200 antes do fim de março.
O euro ampliou sua queda, atingindo a paridade em relação ao franco suíço, e commodities de todos os tipos estavam em alta.
As bolsas europeias operam com direções contrárias. Em Londres, o índice FTSE-100 subia 0,15%, após abrir em queda. Em Frankfurt, ocorria queda de 0,18% e, em Paris, alta no mesmo patamar.
As Bolsas asiáticas encerram a segunda-feira com perdas expressivas devido às consequências do conflito na Ucrânia. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, fechou em baixa de 2,94%, e registrou o menor nível desde novembro de 2020, enquanto Xangai perdeu 2,17% e Hong Kong teve um resultado ainda pior, com queda de 3,93%.
Bloqueio ao petróleo russo
Após subir 21% na semana passada, as cotações do petróleo ganharam novo impulso após sinalização dos EUA de bloqueio à compra do produto russo.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o governo Biden e seus aliados estão discutindo um embargo ao petróleo russo, à medida que aumenta a pressão para revidar com mais força a invasão da Ucrânia, espremendo as exportações da principal indústria de energia da Rússia.
Enquanto traders, transportadores, seguradoras e bancos estão cada vez mais cautelosos em assumir ou financiar compras de barris russos, um embargo formal aumentaria a incerteza que levou a negociação do Brent a sua maior faixa desde o lançamento do contrato futuro, em 1998.
“Se o Ocidente cortar a maior parte das exportações de energia da Rússia, seria um grande choque para os mercados globais”, disse o economista-chefe do BofA, Ethan Harris.
Ele estima que a retirada dos 5 milhões de barris da Rússia no fornecimento global pode fazer os preços do petróleo dobrarem para US$ 200 o barril e reduzir o crescimento econômico mundial.
“O aumento dos preços do petróleo e das commodities provavelmente vai obrigar as economias europeias a racionar o consumo e isto vai pesar na recuperação econômica e nos lucros das empresas em 2022”, prevê Ipek Ozkardeskaya, analista do banco Swissquote.
Commodoties em alta
E não é apenas o petróleo, com os preços das commodities tendo seu início de ano mais forte em qualquer ano desde 1915, diz o BofA. Entre as muitas movimentações na semana passada, o níquel subiu 19%, o alumínio 15%, o zinco 12% e o cobre 8%, enquanto os futuros do trigo subiram 60% e o milho 15%.
Isso só aumentará o pulso inflacionário global, com os dados de preços ao consumidor dos EUA nesta semana que devem mostrar um crescimento anual em de 7,9%.
Com Plinio Teodoro, da Revista Fórum e informações do jornal O Globo