
Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) montaram uma operação para tentar abafar a crise no governo deflagrada com a revelação de um telefonema interceptado pela Polícia Federal (PF) em que o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, menciona o mandatário.
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Em uma chamada telefônica com a sua filha, Ribeiro diz que Bolsonaro achava que haveria uma busca e apreensão em sua casa. O ex-comandante do MEC é alvo de uma investigação que apura suspeita de tráfico de influência e pagamentos de propinas envolvendo dois pastores lobistas com acesso ao governo. Ao todo, a PF gravou 1.768 ligações durante a apuração.
Auxiliares do presidente traçaram um plano para tentar frear a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal para apurar as suspeitas de irregularidades no MEC, tarefa que, de acordo com pessoas próximas ao Planalto, é considerada prioritária neste momento. Até agora, integrantes da oposição já conseguiram coletar 28 assinaturas, uma a mais que o necessário para dar início aos trabalhos de investigação.
Ao analisar a relação dos que defendem a abertura da CPI, aliados de Bolsonaro identificaram, porém, dois nomes que podem recuar — os senadores Giordano (MDB-SP) e Eduardo Braga (MDB-AM)
Segundo integrantes do governo, o parlamentar estaria insatisfeito com demandas não atendidas pelo Executivo. Giordano diz que não negocia a sua opinião, mas está disposto a ouvir o Planalto:
Além do parlamentar paulista, articuladores políticos do Planalto devem fazer uma investida para tentar reverter o apoio do senador Eduardo Braga (MDB-AM). Braga, no entanto, afirmou ao jornal O Globo que não irá retirar sua assinatura do pedido de abertura de investigação.
Integrantes do governo avaliam que, caso o pedido de CPI do MEC seja protocolado no Senado, a oposição deverá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que determine a imediata instauração da comissão. Caminho semelhante ao percorrido durante a abertura da CPI da Covid, que colocou o governo Bolsonaro no epicentro da investigação sobre irregularidades na compra de vacinas contra a doença.
Teoria da ‘insatisfação’
Outra frente que aliados do presidente monitoram com cautela é a investigação envolvendo Milton Ribeiro. Três pessoas de confiança de Bolsonaro relataram ao Globo terem sido informadas de que, até o momento, não há vestígios de novas gravações com potencial de atingir o titular do Palácio do Planalto.
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Com isso, o governo pretende manter o discurso de que não há provas de que Bolsonaro interferiu no inquérito da PF, nem de que vazou informações sigilosas para alvos da operação que apura irregularidades no MEC.
Esse cenário, contudo, pode mudar com a apreensão do celular do ex-ministro do MEC e de outros suspeitos. Uma das próximas etapas da investigação será submeter os aparelhos à perícia para identificar registros de chamadas e diálogos que possam esclarecer se houve ou não um vazamento do inquérito. A defesa de Ribeiro nega irregularidades.
A avaliação de auxiliares de Bolsonaro é que a operação envolvendo o ex-ministro da Educação foi resultado da insatisfação de uma ala da PF com o presidente por causa de uma promessa descumprida de reajuste salarial e reestruturação da categoria.
Com base nessa suspeita, esses conselheiros passaram a mapear outras investigações que podem trazer novos problemas ao governo às vésperas das eleições.
Uma possível fonte de crise, segundo aliados de Bolsonaro, é o inquérito que apura suspeitas de tráfico de influência de Jair Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente e conhecido como “04”. O jornal O Globo também revelou que a investigação obteve diálogos que indicam que uma arquiteta pediu a ajuda de Jair Renan para intermediar um encontro de Bolsonaro com um empresário.
A defesa do filho do presidente nega que ele tenha feito tráfico de influência.
Para Mourão, CPI não avança
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), avalia que a CPI do MEC não deve prosperar. As informações são do Metrópoles.
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“Acho complicado, porque está todo mundo pensando em eleição, não é? Mais aí três meses tem essa eleição. Então, eu acho que falta tempo para isso aí progredir. Acho também que não vai para frente”.
Em entrevista, o vice-presidente ainda julgou que a prisão do ex-ministro não deve prejudicar a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, em contrariedade ao entendimento de parlamentares do Centrão. O general afirmou que a prisão foi “algo um tanto quanto apressado” e havia “indícios fracos” de prováveis crimes para embasar a medida.
Com informações do G1, Metrópoles, Carta Capital e UOL