
Eleita senadora pelo Distrito Federal no primeiro turno, Damares Alves coleciona diversas condutas questionáveis — e criminosas —, para criar comoção no eleitorado bolsonarista. Mais recentemente, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) admitiu ter mentido ao afirmar que governo Jair Bolsonaro (PL) recebeu registros de crianças vítimas de estupro na Ilha de Marajó, no Pará.
No último domingo, em um culto evangélico, ela falou da existência de uma suposta rede de tráfico e crimes sexuais contra crianças paraenses. “Nós temos imagens de crianças de 3 e 4 anos que, quando cruzam as fronteiras, tem seus dentes arrancados para não morderem na hora do sexo oral”, declarou.
Agora, Damares admite que sua declaração tem como base “conversas com o povo na rua”. “O que eu falo no meu vídeo são as conversas que eu tenho com o povo na rua. Eu não tenho acesso, os dados são sigilosos, mas nenhuma denúncia que chegou na ouvidoria (do ministério) deixou de ser encaminhada”.
Sem receios da Justiça ao relatar invencionices para convencer eleitores através do medo, a pastora agora está sob o olhar do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Ricardo Lewandowski, da Corte Suprema, enviou uma queixa-crime para a Justiça Federal do Pará contra ela pelas declarações dadas em culto evangélico.
Lewandowski diz em sua decisão que como Damares já deixou o ministério, não seria sua a competência para julgar as declarações, por isso o envio da queixa-crime à justiça estadual. Além disso, o magistrado diz que, por conta dos fatos relatados terem supostamente ocorrido enquanto a bolsonarista estava à frente do ministério, poderia ter ocorrido o crime de prevaricação.
Ainda, a tese de que o presidente Jair Bolsonaro estaria ciente dos crimes não é descartada pelo Supremo. Dessa maneira, o ministro acredita que as falas de Damares devam ser investigadas na esfera criminal.
Para piorar, o Ministério Público Federal do Pará (PR-PA) afirmou em nota divulgada na última quinta-feira (13) que a denúncia de Damares não consta nos inquéritos e investigações sobre tráfico humano e abusos sexuais de crianças feitas nos últimos 30 anos na região. O que pode resultar em acusação de divulgação de fake news e propaganda eleitoral irregular, uma vez que a fala vinha acompanhada de um pedido de voto no atual presidente.
Se as denúncias darem prosseguimento, Damares Alves corre sérios riscos de ter o mandato cassado e sofrer penalidades por prevaricação. O cerco foi fechado contra uma das principais difusoras de fakes news e teses fundamentalistas da extrema direita brasileira.
Contudo, se as falsas alegações da ex-ministra acabarem “em pizza”, teremos no Senado Federal uma das maiores defensoras do bolsonarista atual e forte articulista de Bolsonaro. Sem o conhecimento dos limites morais e com uma conduta de “tudo vale” para ganhar a eleição presidencial, Damares desafia o cumprimento da legislatura e revela a real intecionalidade ao assumir uma candeira no Congresso Nacional: dar prosseguimento ao desmonte bolsonarista no Brasil.
Uma petição online já foi criada para que Damares Alves (Republicanos-DF) seja cassada antes mesmo de tomar posse como senadora ultrapassou as 714 mil assinaturas. Hospedado na plataforma Change, o abaixo-assinado, que vem sendo compartilhado nas redes sociais e apoiado por famosos como a apresentadora Xuxa Meneghel, a atriz Patrícia Pillar e o apresentador Marcelo Tas, é motivado pelo fato da pastora ter feito relatos, durante um culto evangélico, sobre supostos crimes sexuais contra crianças que seriam de conhecimento do governo Bolsonaro.
Além disso, os deputados federais Alencar Santana Braga (PT-SP), Erika Kokay (PT-DF) e Reginaldo Lopes (PT-MG) protocolaram junto à procuradoria-geral da República (PGR), também na terça, uma representação criminal contra a ex-ministra.
“Ao não levar ao conhecimento do Ministério Público e/ou autoridades judiciais os indícios (e mesmo as provas, considerando alegada existência de vídeos sobre os fatos narrados) de crimes ou provas de que dispunham, caracterizam, em tese, o crime de prevaricação e ofensa aos direitos das crianças e adolescentes, de modo que cabe a esse órgão Ministerial a adoção das providências legais pertinentes”, diz um trecho da ação dos deputados petistas.