Epidemiologistas e novos estudos sugerem que a chamada imunidade coletiva necessária para conter a expansão da covid-19 pode ter sido superestimada

Novos estudos indicam que em praticamente todas as regiões do mundo mais duramente afetadas pelo coronavírus e que retomaram as atividades há queda sustentada no número de mortes e infecções. A tendência é a mesma na Europa e nos estados brasileiros e norte-americanos mais contaminados.
De acordo com a Folha, no Brasil, cidades como São Paulo, Manaus, Rio e Recife, já fortemente afetadas, estão reabrindo até agora sem grandes repiques. Mas a epidemia se alastra no interior, assim como nas regiões Sul e Centro Oeste, até então poupadas.
O mesmo ocorre nos EUA, que não registrou novos picos nas cidades mais afetadas e que tiveram ondas de protestos de rua contra o racismo após a morte de George Floyd.
Para os epidemiologistas a curva da doença sugere que a chamada imunidade coletiva necessária para conter a expansão da Covid-19 pode ter sido superestimada ou estar sendo calculada de forma imprecisa. O que explicaria a não ocorrência de uma segunda onda de infecções até agora.
O motivo, de acordo com especialistas, pode ter relação com ao menos dois fatores: 1) Muito mais pessoas pegaram o vírus e desenvolveram anticorpos que diminuem com o tempo, resultando depois em testes negativos; ou elas se curaram mesmo sem a criação de anticorpos; 2) o principal vetor de transmissão do vírus seriam os adultos jovens, que circulam mais pelas cidades, sobretudo em transportes coletivos.
Covid-19 em Manaus
Considerada por epidemiologistas como um campo de provas para a livre evolução da epidemia devido ao baixíssimo isolamento social que resultou no colapso dos sistemas de saúde e funerário, Manaus é um forte exemplo na queda sustentada dos casos.
Segundo a Epicovid, maior mapeamento do coronavírus do país conduzindo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), o máximo de prevalência de anticorpos na população da capital do Amazonas foi encontrado entre os dias 4 e 7 de junho: 14,6%.
Muito abaixo do que se estimava ser a chamada “imunidade de rebanho”, que indicava como necessário que até 70% das pessoas deveriam contrair o vírus antes que ele não encontrasse hospedeiros para se propagar.
No entanto, junho foi o mês em que os sepultamentos e cremações em Manaus se reaproximaram das taxas pré epidemia; e julho vem sendo marcado pela desmobilização de parte do aparato para a Covid-19.
Imunização cruzada
Para a Folha, o infectologista da Fiocruz, Julio Croda, afirmou que a imunização contra o coronavírus pode estar se dando de forma “cruzada”: pela suscetibilidade individual (com linfócitos B e T) e por outros fatores genéticos combinados às políticas de distanciamento social e o uso de máscaras.
“Sem o distanciamento e a máscara, o percentual de infectados e mortos na população teria de ser muito maior para chegarmos à imunidade comunitária”, afirma.
Daniel Soranz, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, relembra que a inexistência de uma segunda onda de infecções ocorreu às custas de muitas mortes.
“Isso ocorre às custas de muitas mortes. Pois se fossemos desenhar um cenário ruim, não poderiamos criar nada pior do que o que vimos em algumas cidades do Brasil, sobretudo nas comunidades mais pobres, como as daqui do Rio”, afirma Soranz.
Com informações da Folha de S. Paulo.