
A tentativa de silenciamento do delegado da Polícia Federal (PF), Bruno Calandrini, responsável pelas investigações que levaram à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, escancara nova crise na corporação.
A cúpula da PF cogitou transferir Calandrini do setor de inquéritos especiais, que investiga casos envolvendo autoridades, para a Divisão de Repressão a Crimes Cibernéticos.
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A informação foi divulgada pelo jornalista Rodrigo Rangel, no Metrópoles. Ele estaria na mira da direção da PF até a última quinta-feira (23), um dia após a operação Acesso Pago ter sido deflagrada.
A ação prendeu o ex-ministro e pastores suspeitos de intermediarem verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) mediante recebimento de propinas.
Calandrini se tornou o pivo de uma crise interna na PF ao apontar a interferência de superiores na condução do inquérito sobre o escândalo no Ministério da Educação. E revelou que o ex-ministro recebia um “tratamento diferenciado”.
Na sexta-feira (24), o Ministério Público endossou as informações do delegado e apontou indícios de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha interferido na investigação.
A parte do inquérito sobre o caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que o presidente tem foro privilegiado. A PF não concedeu nenhuma declaração sobre a intenção de transferir o delegado.
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Esta é a segunda vez, em três anos e meio de governo Bolsonaro, que a Polícia Federal é envolvida em crises sobre interferência política na corporação. A operação Acesso Pago expôs as tensões internas do órgão e apontou condutas ilegais do próprio presidente.
Investigações paralelas
A investigação que apura a atuação do ex-ministro Milton Ribeiro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura na liberação de Verbas do MEC vai sequir em paraleleo à decisão do STF de abrir uma apuração sobre a interferência de Bolsonaro na mesma.
Além disso, a PF investiga também as acusações de interferências feitas pelo delegado Bruno Calandrini no dia da prisão do ex-ministro.
Em áudios divulgados o ex-ministro sugere ter sido avisado por Bolsonaro de um “pressentimento” que buscas seriam efetuadas. As conversas reforçam o mal-estar interno com a desconfiança de que houve um vazamento interno por meio da direção do órgão.
Às vésperas das eleições, direção da PF fica exposta
A crise se torna ainda mais grave por ocorrer às vésperas do período eleitoral e por expor a direção da Polícia Federal. O atual diretor-geral da PF, Márcio Nunes é o quarto a comandar o órgão no atual governo.
Ele é amigo e ex-secretário executivo de Anderson Torres, no Ministério da Justiça, e pode ter sua gestão investigada por interferência política.