
Centenas de imigrantes venezuelanos dormem nas ruas ao relento e enfrentam, a pé, longas e demoradas filas em Pacaraima, no Norte de Roraima, fronteira com a Venezuela. Eles tentam a regularização no país desde que o governo federal liberou a passagem de estrangeiros em vulnerabilidade social no último dia 24 de junho.
São famílias inteiras dormindo em pedaços de papelão, cheias de bagagens nas mãos, enquanto aguardam a vez para o atendimento no Posto de atendimento da Operação Acolhida, uma força-tarefa do Exército que atende imigrantes e refugiados venezuelanos no país. No grupo que enfrenta as dificuldades de atravessar a fronteira, também há pessoas com deficiência, idosos e crianças expostos à insalubridade e ao perigo das ruas lotadas de gente em Pacaraima.
Há um mês, em 24 de junho, o Brasil flexibilizou a entrada de imigrantes venezuelanos em Pacaraima, liberando a passagem daqueles que estão vulnerabilidade social. Os grupos de prioridade são: crianças ou adolescentes desacompanhados; famílias com crianças ou adolescentes; pessoas com problemas de saúde; idosos; e pessoas que sofrem grave ameaça a integridade física.
Nos primeiros 20 dias da liberação da passagem na fronteira para pessoas em situação de vulnerabilidade, a Acolhida chegou a atender cerca de 800 venezuelanos por dia, um salto se comparado aos 20 imigrantes que estavam sendo atendidos por dia antes da medida. Nos últimos dias, o número é até 300 atendimentos diários.
Apesar da flexibilização, a fronteira continua oficialmente fechada. O fechamento ocorre desde 18 de março de 2020, como medida do governo federal para conter o avanço do coronavírus. Antes da liberação da passagem na fronteira, os venezuelanos estavam entrando no país por rotas clandestinas para fugir da crise econômica e social de seu país de origem.
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Controle prioriza entrada legal de venezuelanos
O coordenador da Operação Acolhida, general Antônio Manoel de Barros, responsável pelo atendimento e regularização desses imigrantes, informou que o motivo para a formação das grandes filas é a adoção de um sistema de controle que dá prioridade às pessoas que entram pela fronteira oficial, que são atendidas de imediato, em detrimento das que entram pelas rotas clandestinas.
“Essas pessoas estão na rua por diversos motivos. Alguns querem ficar na rua, alguns estão aguardando a documentação e alguns estão na fila de espera dentro do atendimento da acolhida. Por experiência, sabemos que irá chegar em um ponto de estabilidade”, disse o general.
A ideia, segundo o general, era priorizar o atendimento para quem chegasse no país pela fronteira regular e “incentivar as pessoas a não entrarem por rotas clandestinas” – o que não tem ocorrido. “Nós achávamos que ia ter fila na parte da fronteira para entrada, e o maior número de entradas ainda não está acontecendo pela fronteira normal”, explica.
O chefe de comunicação da Operação Acolhida, major Silvio Sant’anna, disse que desde a flexibilização o processo para regularização migratória dura até cinco dias. Para tentar organizar as filas, os militares dão uma espécie de senha verbal.
Ao ser atendido no posto de triagem em Pacaraima, a Acolhida vacina os imigrantes segundo o Plano Nacional de Imunização (em especial a influenza e o sarampo, doença erradicada no Brasil) e faz a testagem da Covid-19 – em caso de positivo o migrante é isolado no abrigo. Após esses procedimentos, o migrante pode ser levado para abrigos em Boa Vista, onde escolhe se quer ser interiorizado ou não.
Atualmente, a Acolhida coordena, em parceira com ONGs e agências internacionais ligadas à ONU, 11 abrigos em Boa Vista, sendo 4 deles indígenas; um abrigo indígena e um alojamento de trânsito em Pacaraima, além de um alojamento de trânsito em Manaus, no Amazonas. Dois abrigos deverão ser abertos para abrir os imigrantes, mas ainda não há previsão para a abertura.
Contexto
Desde o final de 2015, Roraima passou a ser o destino de venezuelanos em fuga da crise política e econômica da Venezuela. Em meio ao descontrole, a Operação Acolhida foi criada para organizar o fluxo migratório, mas, três anos depois, as cenas agora vistas em Pacaraima – de muitos imigrantes nas ruas – relembram o estopim da crise humanitária nem Roraima, o estado com a menor população e o menor PIB do país.
Com informações do G1