
Entre janeiro do ano passado e o início deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou publicamente pelo menos 200 frases nas quais critica o isolamento, minimiza a pandemia e propaga o uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19. O levantamento compõem um relatório que será usado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Congresso.
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A primeira declaração listada é de 26 de janeiro de 2020. Naquela ocasião, o presidente afirmou “não é uma situação alarmante”, em referência às precauções de diversso países adotaram para conter a Covid-19. Este documento foi obtido pelo jornal Folha de S. Paulo.
Incentivo à aglomeração durante pandemia
O Brasil registrou o primeiro caso de Covid-19 em 27 de fevereiro do ano passado.
No final daquele mês o presidente convocou a população para protestos em favor do seu governo, ignorando as medidas de proteção recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso apesar de diversos países já apresentarem situações preocupantes, com alto número mortos pelo coronavírus.
Semelhantemente, no dia 9 do mês seguinte, isto é, abril de 2020, Bolsonaro disse: “Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado, o poder destruidor desse vírus”.
Logo após isso, o presidente passou a promover e participar de várias aglomerações. Em praticamente nenhuma delas, Bolsonaro ou os apoiadores do governo usaram máscara de proteção facial. Em vários momentos, ele abraçou populares que se amontoavam ao seu redor.
Cloroquina contra “gripezinha”
Em março Jair Bolsonaro adotou o discurso em favor da Hidroxicloroquina para tratar a Covid-19. Os técnicos da CPI da Pandemia também levantaram as frases do presidente sobre o uso deste medicamento incentivando o que o governo chamou de “tratamento precoce”.
Mesmo sem qualquer comprovação científica, a União pagou para o Exército produzir 1,25 milhão de comprimidos. Esses contratos se tornaram alvo de um inquérito por suspeita de superfaturamento. Atualmente a aquisição sem processo licitatório de matéria prima para confecção do medicamento é investigada.
Do mesmo modo, o presidente Jair Bolsonaro chamou, em rede nacional, o coronavírus de “gripezinha”. Naquela ocasião o Brasil ultrapassou os 20 mil mortos pela doença.
Articulação contra CPI mostra fraquezas do governo
A instalação da CPI da Pandemia ocorreu na semana passada. Quinta-feira (29), o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou o plano de trabalho da comissão.
Dentre as seis linhas que compõe as investigações, a primeira a ser analisada pelos membros do colegiado corresponde às ações do governo no enfretamento da pandemia.
Esta CPI é vista como um este de fogo para a gestão Bolsonaro. Até o momento o governo acumula derrotas e torna evidente sua desarticulação política.
O primeiro baque foi a própria instalação da comissão que aconteceu mediante decisão judicial. Na sequência, o Palácio assistiu a eleição de um comando de parlamentares independentes e de posição para a CPI. Eleição esta que contou, inclusive, com o voto de um dos senadores que integram a base do governo na Casa, Ciro Nogueira (PP-PI). Desde então os episódios de “confusão” se somaram.
Renan Calheiros foi designado relator, derrubando uma liminar que a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) no sentido de barrar sua presença na comissão. Já o senador Flávio Bolsonaro chamou o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco de “ingrato” por não impedir a continuidade dos trabalhos da CPI. Por fim, os ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) passaram a travar, nos bastidores, uma disputa por mais poder.
Com informações da Folha de S. Paulo