
Nove capitais brasileiras já registram o avanço de infecções por coronavírus, segundo levantamento do sistema InfoGripe, produzido pela Fiocruz com base em registros do Ministério da Saúde.
No último boletim, que reúne dados coletados até o último dia 31, a instituição mostrou que oito dos municípios mais ameaçados são das regiões Norte e Nordeste, as primeiras em que o sistema de saúde entrou em colapso diante da Covid-19, entre abril e maio. A exceção é Florianópolis. O aumento, segundo especialistas, pode levar à chegada de uma segunda onda da pandemia no país.
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De acordo com o levantamento, uma forte tendência (superior a 95%) de avanço da pandemia foi detectada na capital catarinense, em João Pessoa e Maceió. Houve uma probabilidade moderada de crescimento (maior que 75%) da Covid-19 em Belém, Fortaleza, Macapá, Natal, Salvador e São Luís.
“São cidades em que há um avanço sustentado, e que vem sentido mantido, nos casos de coronavírus”, alertou Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe. “Não temos certeza sobre a existência de uma segunda onda, mas é uma possibilidade que deve servir de alerta para que as autoridades locais repensem ou revertam políticas de flexibilização.”
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Um agravante são os índices socioeconômicos das capitais com novos casos, que são mais frágeis do que os vistos no Centro-Sul do país. Como um grande percentual da população tem baixa renda, poucas pessoas podem aderir ao teletrabalho, e as políticas de isolamento social não têm o sucesso desejado.
Brasil voltou cedo demais à normalidade
Segundo Gomes, Florianópolis foi a única capital brasileira onde não houve um período de estabilização após o pico da pandemia. Os casos voltaram a crescer logo em seguida, provavelmente devido à desmobilização da população. Pior: também foi uma das cidades com menor número de infectados por cem mil habitantes, o que significa que muitas pessoas não tiveram contato com o coronavírus.
“O Brasil voltou cedo demais à normalidade. Por isso, nossa segunda onda pode ser mais grave do que a vista na Europa. Lá, o número de casos foi bastante reduzido até a pandemia atingir novamente a população. Aqui, nunca chegamos a um índice confortável, estacionamos em um nível alto. Então, se houvesse uma nova leva da doença, ela nos pegaria no meio de uma pista, e não no começo”, diz o coordenador do InfoGripe.
Covid-19 entre os mais jovens
Benilton de Sá Carvalho, pesquisador de estatística e epidemiologia da Unicamp, estima que a segunda onda pode abater o país daqui a “quatro ou seis semanas”, considerando os relatos sobre aumento das internações que estão saturando a rede privada e transbordando para o sistema público, mesmo padrão visto no primeiro semestre. Carvalho critica a exagerada circulação da população, predominantemente jovens, e a menor adesão às máscaras.
“Os jovens estão se expondo muito e levam o coronavírus aos idosos, que são mais frágeis e precisarão de cuidar. Acredito que a nova onda de casos terá uma magnitude menor, porque conhecemos mais a Covid-19 e desenvolvemos o atendimento aos pacientes. Mas só vamos sossegar quando houver uma imunização”.
Entre as cidades com a situação mais crítica apontadas pelo boletim do InfoGripe, Fortaleza tem 72,3% das UTIs e 54,4% das enfermarias ocupadas por pacientes de Covid-19, de acordo com dados do IntegraSUS. A capital cearense e São Luís completam cinco semanas consecutivas com sinal de crescimento na tendência de longo prazo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Com informações do jornal O Globo