
Estudo do Instituto Butantan indica que com 75% da população vacinada, a pandemia da Covid-19 pode ser controlada. O local escolhido para a pesquisa foi a cidade de Serrana (SP), com 45 mil habitantes e alto índice de contágio pelo coronavírus em 2020.
A cidade do interior paulista, na região metropolitana de Ribeirão Preto, passou por estudo sobre as consequências da vacinação em massa da população. O chamado ‘Projeto S’, idealizado pelo Butantan consiste em analisar o impacto e a eficácia da vacinação na redução de casos do novo coronavírus e no controle da pandemia. Os números foram divulgados em uma reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo, no domingo (30).
O município teve os moradores divididos em quatro grupos, nomeados pelas cores verde, amarela, cinza e azul. Os grupos foram vacinados isoladamente, com uma semana de diferença.
A cidade ainda chegou a enfrentar um aumento de casos antes de a vacinação terminar. Segundo os cientistas, os efeitos da vacinação começaram a reverter a alta de contágio após a aplicação da 2ª dose em três dos quatro grupos de vacinação. A esta altura, cerca de 75% da população havia recebido as duas doses. Os dados sobre vacinação em massa na cidade de Serrana devem ser divulgados na íntegra nesta segunda-feira (31).
Como consequência, a cidade teve uma queda de 699 casos em março para 251 em abril. O número de mortes também passou de 20 para 6 nesse mesmo período. Ao longo da vacinação, as mortes caíram 95% na cidade. O número de casos sintomáticos de Covid-19 teve redução de 80% e as hospitalizações caíram 86%.
A pesquisa mostra ainda que a queda no número de casos de Serrana caiu no mesmo período em que 15 cidades vizinhas apresentavam aumento de contágio.
Importância de vacinar contra a Covid-19
Serrana sentiu com força a chegada da pandemia em abril do ano passado, quando teve o primeiro surto em uma casa de idosos. As autoridades sanitárias locais realizaram um inquérito sorológico para entender o quanto o vírus já havia avançado e se depararam com uma taxa de prevalência bastante alta: 5% da população testada aleatoriamente já havia sido infectada enquanto o percentual no Estado era de 2%. A má notícia, porém, abriu uma porta para a ciência: uma cidade pequena com alta incidência de casos, capacidade de pesquisa e suporte científico por sediar um hospital estadual era o laboratório perfeito para a pesquisa secreta almejada pelo Instituto Butantan.
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Um censo de saúde foi realizado ainda no ano passado para mensurar o tamanho da “população vacinável”. Cerca de 28.000 serranenses tinham mais de 18 anos e eventuais doenças crônicas sob controle e estavam, portanto, aptos a participar da pesquisa. Nos bastidores, a gestão municipal fazia reuniões com comerciantes e lideranças religiosas, potenciais formadores de opinião na cidade.
Sem citar o secreto ‘Projeto S’, pedia ajuda para convencer a população sobre os benefícios de receber as vacinas quando estivessem disponíveis. Só assim seria possível retornar à “normalidade”. O resultado foi uma alta adesão ao estudo, com 27.150 pessoas do público-alvo vacinadas, o que representa 64% de toda a população da cidade, já que crianças, gestantes e lactantes não foram imunizadas no projeto porque ainda não há estudos da vacina voltados a este público.
‘Projeto S’ sobre Covid-19 dá esperança de dias melhores
Por causa do ‘Projeto S’, do Instituto Butantan, hoje, a cidade já vive um feito que para a maioria dos municípios brasileiros ainda é um sonho: tem 97,7% de sua população adulta imunizada contra o coronavírus. Assim, se converteu em uma ilha de esperança de dias melhores, em um país afogado em uma crise sanitária e que ainda patina para imunizar sua população — há cidades, por exemplo, em que não há sequer a segunda dose para pessoas que já começaram a ser vacinadas.
Na última semana, o Ministério da Saúde anunciou que apoiará uma pesquisa em outra cidade paulista. Botucatu também terá vacinação em massa com a vacina da AstraZeneca e um programa de sequenciamento genético para avaliar a efetividade do imunizante frente às novas variantes do coronavírus.
Nos Estados Unidos, onde mais de 100 milhões de pessoas já foram vacinadas, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) já permite a circulação ao ar livre sem máscaras. Israel, que já imunizou mais da metade de sua população, também dá os primeiros passos na volta à normalidade do período anterior à pandemia.
Com informações do jornal El País, Folha de S.Paulo e Poder 360