Em pouco mais dois meses, o novo coronavírus já infectou 251.577 pessoas e matou mais de 13.445 na América Latina, de acordo com dados compilados pelo site Worldometers até a tarde desse domingo (3).

Contudo, os números podem ser ainda maiores com grande possibilidade de subnotificação, seja pela incapacidade de realizar testes em massa, seja pela falta de transparência de alguns governos.
Desigualdade
Segundo a Folha de S. Paulo, o novo coronavírus ganhou contornos muito particulares na América Latina. Trata-se de uma região muito populosa, com mais de 613 milhões de habitantes, e formada por países que, em sua maioria, tem a desigualdade social como característica histórica.
Assim, onde 53% do mercado de trabalho é composto por informais, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e os sistemas de saúde são menos preparados que os da Europa e dos EUA, os impactos econômicos e sanitários da Covid-19 são ainda maiores.
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) apresentou em abril uma projeção pessimista para a América Latina, na qual haveria encolhimento de 5,3% do PIB regional em 2020.
Seria o pior desempenho da história da região, cuja queda mais expressiva neste índice foi em 1930, durante a Grande Depressão, quando houve encolhimento de 5%.
“E a consequência mais grave será o aumento da pobreza. A queda do PIB vai empurrar quase 29 milhões de latino-americanos para a pobreza”, diz Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal.
Polarizações políticas
O vírus também encontrou uma América Latina com grandes polarizações políticas. Em 2019, levantes populares em Equador, Bolívia e Chile levaram latino-americanos às ruas contra o agravamento de crises econômicas, acusações de fraude eleitoral e as tais desigualdades históricas.
Passada a crise do coronavírus, é grande a chance de as demandas sociais voltarem com ainda mais força.
No Brasil, o vírus complicou o já tumultuado governo Jair Bolsonaro. Como o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, o presidente brasileiro tem causado repulsa na comunidade internacional ao minimizar os riscos da doença.
Situação do Equador
O símbolo do horror que a Covid-19 pode causar, porém, foi revelado antes em outro país, o Equador. Na metrópole litorânea de Guayaquil, coração econômico do país e porto histórico da região, o coronavírus se materializou nas imagens de corpos deixados por dias em macas ou dentro de casas, até que as autoridades sanitárias conseguissem recolhê-los.
O governo determinou medidas de restrição, entre as quais a quarentena e o toque de recolher, mas elas foram de difícil implementação.
Assim, quando a força-tarefa enviada pelo governo nacional chegou a Guayaquil, já era tarde demais. Além de atabalhoado, o trabalho do Exército foi confuso, sem registrar corretamente onde cada corpo foi enterrado e, em alguns casos, embaralhando a identificação dos cadáveres.
Venezuela
Já no país que vive a maior crise humanitária da região, a Venezuela, os números de infectados (345) e mortos (10) divulgados pelo governo são baixos. Médicos independentes, entretanto, desconfiam dos dados e afirmam que a pandemia ainda não ganhou força no país.
Se um aumento grande acontecer, porém, alertam para a situação do sistema de saúde do país. Organismos internacionais, como a ONG Human Rights Watch, afirmam que os hospitais não têm equipamentos nem recursos para enfrentar a pandemia. Em alguns faltam luz e água.
Há muita preocupação também, com o pós-coronavírus. Para o analista político Juan Gabriel Tokadian é preciso observar o que vai acontecer nos países que já tiveram uma explosão social antes.
“A pandemia é um hiato. Quando ela passar, os problemas de antes ressurgirão, potencializados pela crise econômica que a doença causará”, diz.
Projeções pessimistas
A Cepal prevê que 11,5% seria a taxa de desemprego em 2020, aumento de 3.4 pontos percentuais em relação a 2019. Ao todo, 37,7 milhões, seria o número de pessoas desempregadas na América Latina.
O crescimento da pobreza se elevaria em 4.4 pontos percentuais, chegando a 34,7%, ou seja, mais 29 milhões de pessoas em situação de pobreza. E cerca de 16 milhões de pessoas seriam incluídas na condição de extrema pobreza.
Com informações da Folha de S. Paulo.