
Pouco mais de nove meses após o surgimento na China, a pandemia da Covid-19 superou, neste último domingo (27), o número de um milhão de mortos no mundo, de acordo com a recontagem feita pela Agência France-Presse (AFP), estabelecida a partir de dados oficiais. No total, o coronavírus causou 1.000.009 mortes pelo mundo e 33.018.877 casos detectados, enquanto 22.640.048 pessoas se recuperaram da doença, de acordo com as autoridades.
As drásticas medidas adotadas por muitos países não conseguiram até o momento frear a pandemia, que provoca consequências econômicas desastrosas e aumenta as divergências políticas.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, na última sexta-feira (25), que as mortes pela Covid-19 poderia duplicar-se e alcançar a marca de dois milhões de óbitos, caso as medidas para evitar a propagação do vírus não forem mantidas.
As regiões mais atingidas em número de mortes são a América Latina e o Caribe (341.032 mortes, 9.190.683 casos), a Europa (229.945; 5.273.943) e os Estados Unidos e Canadá (214.031; 7.258.663).
Os países com mais óbitos são Estados Unidos (204.724), Brasil (141.776) e Índia (95.542). Mas a lista de mortes em relação à população é liderada pelo Peru (975 vítimas fatais por milhão de habitantes), seguida por Bélgica (861), Bolívia (671) e Espanha (668).
“Nem em meus piores pesadelos”
O mundo tem gravado na memória as imagens de covas comuns cavadas no Brasil, de um necrotério improvisado no Palácio de Gelo de Madri e de camiões frigoríficos com cadáveres nas ruas de Nova York. Além da frieza dos números, a consequência mais devastadora é o vazio deixado pelos que morreram, já que muitos corpos não puderam ser velados pelos familiares em razão das medidas sanitárias.
“Nem eu meus piores pesadelos imaginei que passaria por isso”, disse Mônica, 45 anos, ao lembrar que precisou confirmar o cadáver de seu pai, Oscar Farías, prestes a ser cremado, falecido em Buenos Aires em 27 de abril aos 81 anos.
Em 11 de janeiro, a China registrou oficialmente a primeira morte pelo SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19 que se propagou inicialmente na província de Wuhan, onde foi detectado em dezembro.
Em um mês, a China registrou mais de 1 mil mortes, um balanço mais grave do que o deixado pelo Síndrome Respiratório Agudo Severo (SARS), que circulou na Ásia em 2002-2003 e foi fatal para 774 pessoas.
Covid-19 pelo mundo
A partir de fevereiro, o vírus começou a provocar mortes fora de China e seu crescimento foi exponencial, primeiro na Europa, que vê agora o surgimento de uma segunda onda, e depois no continente americano, onde os números de casos e óbitos se mantêm altos desde junho.
A resposta governamental foi drástica na imensa maioria dos casos. Em meados de abril, aproximadamente de 60% da população mundial, cerca de 4,5 bilhões de pessoas, se via afetadas por algum tipo de confinamento. As consequências econômicas deste fechamento, inédito na história, chegaram a todos os cantos do planeta.
Comércios fechados, ruas desertas, aeroportos vazios, penúria de abastecimento em mercados: o mundo nunca havia vivido algo semelhante. Em junho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculou que o PIB sofreria uma contração de 4,9% em 2020. Em um ano, o setor aéreo perdeu 92% de seu volume de voos.
Os grandes eventos esportivos foram suspensos ou cancelados e os Jogos Olímpicos de Tóquio adiados para 2021, sem a certeza de que poderá ser realizado.

“Um grande vazio”
Patrick Vogt, médico em Mulhouse, uma cidade no leste da França que se tornou o principal foco da doença no país em março, lembra do terrível momento em que se deu conta de que a Covid-19 estava por todas as partes. Outros médicos começaram a ficar doentes, alguns morreram. Não era apenas uma gripe, como acreditavam no início, mas sim uma “doença mortífera”.
Na Ásia, onde registravam-se menos de 100 óbitos por dia até meados de abril, a alta é contínua desde então, principalmente por causa da situação da Índia, que superou nesta segunda-feira (28) a marca de seis milhões de casos.
Em escala mundial, a curva se encontra estável desde início de junho, com cerca de 5 mil mortes diárias, segundo números oficiais.
Para Franklin Américo Rivera, um fotojornalista salvadorenho de 52 anos, o pesadelo começou em 22 de junho com uma faringoamigdalite. Em seguida, veio uma infecção urinária.
“Não podemos descrever esse grande vazio”, disse a irmã de Rivera, Geraldina. “Ele não podia caminhar muito, então passava o dia sentado em uma cadeira que colocou na varanda”. E, em uma noite de escassez de ambulâncias, uma tempestade e a saturação do sistema de emergência se encarregaram do resto.
Diversos laboratórios do mundo estão envolvidos na corrida pela fabricação de uma vacina para a Covid-19. Na quinta-feira, o grupo biotecnológico americano Novavax anunciou que iniciou no Reino Unido um teste clínico de fase final para sua potencial vacina. Trata-se da 11ª vacina experimental do mundo que entra na fase final dos testes clínicos.
O número de um milhão de mortes pela pandemia do novo coronavírus é impressionante em comparação com outros vírus recentes, como a gripe A (H1N1), que em 2009 causou 18.500 óbitos.
É menor, porém, que a destruição causada pela “gripe espanhola” de 1918-1919, que teria sido responsável pela morte de cerca de 50 milhões de pessoas, de acordo com dados publicados no início dos anos 2000.
Seis milhões de casos na Índia
Com 6,1 milhões de contágios, a Índia pode ultrapassar nas próximas semanas os Estados Unidos (7,2 milhões) e se tornar o país do mundo com mais casos oficialmente registrados. O país, de 1,3 bilhão de habitantes, tem algumas das cidades mais densamente habitadas do planeta. Desde o fim de agosto o país confirmou entre 80 mil e 90 mil novos casos diários, registrando assim uma das taxas mais elevadas do mundo.
No domingo, o primeiro-ministro Narendra Modi pediu aos indianos que continuem usando máscaras ao sair de casa.
“Estas normas são armas em uma guerra contra o coronavírus. São ferramentas potentes para salvar as vidas dos cidadãos”, insistiu Modi durante seu discurso mensal na rádio.
Na Ásia, onde foram registradas menos de 100 mortes por dia até meados de abril, a alta é contínua desde então, principalmente pela situação na Índia.
A nível mundial, a curva está em um “platô” desde junho, com quase 5 mil mortes por dia, de acordo com os números oficiais.
Com informações da AFP