
O Brasil registrou 2.866 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas e totalizou nesta sexta-feira (23) 386.623 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias chegou a 2.514. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de -17%, indicando tendência de queda nos óbitos decorrentes da doença.
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Foi a maior queda desde 11 de novembro, quando a média móvel de mortes apresentou queda de -27%. É a primeira vez desde 12 de novembro que esse indicador apresenta tendência de queda.
Os números são do levantamento do consórcio de veículos de imprensa sobre a situação da pandemia de coronavírus no Brasil, consolidados às 20h desta sexta-feira (23). O balanço é feito a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.
Já são 93 dias seguidos no Brasil com a média móvel de mortes acima da marca de mil; o país completa agora 38 dias com essa média acima dos 2 mil mortos por dia.
Média de mortes por Covid-19
- Sábado (17/04): 2.917
- Domingo (18/04): 2.878
- Segunda (19/04): 2.860
- Terça (20/04): 2.830
- Quarta (21/04): 2.787
- Quinta (22/04): 2.543
- Sexta (23/04): 2.514
Em casos confirmados, desde o começo da pandemia 14.238.110 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 65.971 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 57.681 novos diagnósticos por dia. Isso representa uma variação de -18% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de queda nos diagnósticos. Dois estados estão com alta nas mortes: Acre e Pará.
Cloroquina aumenta mortes por Covid-19
Uma análise combinada de diferentes estudos foi publicada na revista científica britânica Nature, concluiu que o uso da hidroxicloroquina em tratamento de pacientes com Covid-19 está associado a uma mortalidade maior.
As conclusões da análise assinada por 94 cientistas foi publicada neste mês pela prestigiada revista. O documento analisou de forma colaborativa 28 estudos, publicados ou não, nos quais participaram 10.319 pacientes com Covid-19.
O uso de hidroxicloroquina foi avaliado em 26 estudos (com 10.012 pacientes) e o de cloroquina em quatro estudos (307 pacientes). A maioria dos trabalhos (79%) foi conduzida no ambiente intra-hospitalar.
A hidroxicloroquina é uma versão modificada da cloroquina, que causa menos efeitos colaterais, por isso é mais usada para tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide, além de ser a versão mais comercializada em farmácias. É por esse motivo que há mais estudos sobre a hidroxicloroquina do que a cloroquina.
Na meta-análise, 14% dos pacientes de Covid-19 tratados com a hidroxicloroquina morreram (606 de 4.316), enquanto faleceram 16,9% (960 de 5.696) dos pacientes do grupo controle. Entre os que tomaram cloroquina, 11% foram a óbito (18 de 160), enquanto entre os pacientes do grupo controle a mortalidade ficou em 8%.
Uso da cloroquina no Brasil
O Ministério da Saúde já fez recomendação ao uso da hidroxicloroquina para estados e municípios. Em junho do ano passado, a pasta enviou para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) um documento que trazia como “medidas essenciais a tomar e divulgar” a consideração da prescrição do remédio.
A recomendação da pasta virou alvo de investigação da recentemente instalada Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado Federal, a CPI da Pandemia. Planos de saúde são acusados de oferecer o medicamento mesmo sem comprovação científica e também viraram alvo das investigações para apurar a atuação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e o uso de verbas federais para o enfrentamento à crise sanitária.
Diante desse quadro, a distribuição da medicação no Brasil teve um salto no ano passado. O Painel de Notificações de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou, em 2020, um aumento de 128% nas notificações de efeitos adversos por ingestão de medicamentos.
A lista é encabeçada por alguns nomes: cloroquina (aumento de 558%), azitromicina (228%) e até a ivermectina, que em 2019 não registrava nenhum caso de efeito adverso, e no ano passado registrou 11.
O uso indiscriminado da droga, com dosagens diferentes aplicadas em hospitais e no uso pelo kit Covid é ainda mais perigoso porque deixa uma zona cinzenta sobre os efeitos colaterais do medicamento, explica o infectologista Álvaro da Costa.
Efeitos adversos da cloroquina
De acordo com Bruno Caramelli, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a análise da Nature confirma a falta de eficácia da hidroxicloroquina e da cloroquina no combate ao coronavírus, adicionando sua relação com a mortalidade dos infectados pela doença.
“Já sabíamos que a hidroxicloroquina e a cloroquina não funcionam para tratar Covid-19, mas agora, com essa meta-análise, sabemos que o remédio pode matar. Quem recebe hidroxicloroquina para tratar Covid-19 tem uma chance de morte 11% maior do que quem não tomou”.,
Bruno Caramelli, USP
Estudos anteriores já demonstraram que o uso indiscriminado da hidroxicloroquina pode causar arritmias cardíacas, mas o mais importante é que ele não funciona para Covid-19. “Sendo assim, não deveria sequer ser receitado”, afirma o médico.
Estudos já comprovaram que a droga é ineficaz tanto na prevenção quanto nos tratamentos de casos moderados e graves de Covid-19, sendo contraindicado em todos eles, explica o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Os trabalhos mostram que a hidroxicloroquina no paciente crítico pode aumentar o risco de distúrbios cardíacos, sobretudo em dosagens altas”, afirma.
Erros médicos
Pressionado para falar em nome da classe médica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) se pronunciou sobre a ineficácia da medicação recentemente, meses depois de atribuir a responsabilidade individual aos médicos por receitá-la. Segundo o vice-presidente do CFM, Donizette Giamberardino Filho, a entidade não endossa nenhum medicamento para tratamento da Covid-19.
No ano passado, o conselho aprovou parecer que facultou aos médicos a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com sintomas leves, moderados e críticos de Covid-19. Questionado sobre o fato de médicos ainda prescreveram a hidroxicloroquina no Brasil, Donizette afirmou que os médicos poderiam “responder por isso”.
Para Caramelli, as evidências científicas da ineficácia da hidroxicloroquina deveriam ser suficientes para a prescrição ser banida do país e não encarada como uma forma de autonomia do médico. Para o professor da USP, receitar uma medicação que sabidamente não resolve o problema é um exemplo de erro médico.
Negacionismo de Bolsonaro
Mesmo diante dos números assombrosos de mortes por Covid-19, o governo negacionista de Bolsonaro parece não se importar muito com a tragédia em curso. O chefe do Executivo já deu declarações em que minimiza a gravidade da doença, a qual chamou de “gripezinha”. Já disse até que pelo “histórico de atleta”, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria se preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma “gripezinha” .
Bolsonaro também afirmou que uso da hidroxicloroquina não fazia mal. Mesmo sem formação médica, afirmou que usado corretamente o medicamento não teria efeito colateral. A despeito da crença do presidente, a bula do remédio explica que o uso causa efeitos colaterais, como cefaleia, irritação do trato gastrointestinal, distúrbios visuais e urticária, entre outras reações adversas. As orientações ainda explicam que doses diárias altas podem resultar em retinopatia e toxicidades irreversíveis.
Em 2020, o presidente ordenou que unidades industriais do Exército se engajassem na produção da cloroquina. No final de 2020, a unidade havia produzido cerca de 3,2 milhões de comprimidos, o custo foi de R$ 1,16 milhão, segundo os ministérios da Saúde e Defesa.
Com informações da CNN e G1