
No final de fevereiro, o neurocientista Miguel Nicolelis já havia previsto que o Brasil alcançaria 3 mil óbitos pela Covid-19 caso não fossem tomadas medidas radicais de isolamento social. Após sua terrível previsão se tornar realidade nessa terça-feira (23), o médico afirma que “situação do Brasil é imprevisível” e “agora tudo pode acontecer”.
Médico e neurocientista, Miguel Nicolelis liderou por 11 meses um grupo de especialistas responsáveis por orientar um consórcio de governadores no Nordeste do país de combate à pandemia. Também professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis é considerado um dos 20 maiores cientistas em sua área, segundo a revista Scientific American.
Em entrevista ao UOL, o especialista afirma que, devido ao colapso na saúde, não há dúvida de que muitas pessoas vão morrer sem o devido atendimento, o que deve aumentar a mortalidade da doença. Nicolelis lembra que, só em São Paulo, são mais de mil pessoas em fila de espera por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Não temos esse dado nacional, mas temos uma fila de espera que aumenta dramaticamente em muitos locais. Ninguém consegue fazer mais uma previsão muito apurada, mas será um número explosivo de mortes nos próximos dias”, diz.
Na semanada passada, o médico já havia afirmado que Brasil se converteu em um “celeiro de novas variantes” da Covid-19 e que é possível prever que o país vá superar a marca de 500 mil mortes por coronavírus em julho. Com o registro de 3.251 vítimas nessa terça, o total de mortes provocadas pelo coronavírus atingiu 298.843.
Colapso funerário vem a seguir, diz Nicolelis
Analisando a crescente no casos de infectados e de mortes, Nicolelis afirmou à CNN Brasil que a pandemia está fora de controle e o colapso funerário é “o próximo passo”. O estado de São Paulo registrou o recorde de 1.021 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 68.623 mortes.
“Isso claramente mostra que a pandemia em São Paulo e no Brasil está fora de controle, no contexto de um colapso hospitalar que começa a migrar rapidamente já em diferentes partes do Brasil mostrando claramente os primeiros indícios de um colapso funerário, que é o passo seguinte de uma pandemia fora de controle”, disse, antes de destacar: “Torço que não piore, que algo aconteça. Mas o que vemos no horizonte federal e com um inverno chegando trazendo aumento de outras doenças respiratórias é uma situação dramática”, afirmou ao Uol.
Comissão nacional e lockdown
Para Nicolelis, há quatro medidas imediatas que podem ser tomadas para minimizar a crise de saúde pública no Brasil. Entre elas, a criação de uma comissão nacional, com o apoio dos três Poderes e dos representantes dos Estados.
“[O primeiro é] Criar uma comissão nacional de manejo da pandemia para supervisionar todos os aspectos da pandemia a nível nacional, um estado maior de combate à pandemia, como todos os países fizeram. Tínhamos que criar bloqueios de fluxo de pessoas. Diminuir o fluxo não essencial pela malha rodoviária e aeroviária, porque esses fluxos estão sendo responsáveis não pela crescida dos casos, mas pela transmissão de variantes mais graves dentro do Brasil”, argumentou Nicolelis.
“Se nós fizermos essa comissão com o apoio do Supremo, Congresso, Fórum dos Governadores, com a associação de prefeitos e com entidades da sociedade civil e da comunidade científica brasileira. Só que agora vamos precisar de ajuda internacional. Vamos precisar de países amigos do Brasil, que vendam dezenas de milhões de vacinas que estão estocadas, como existem nos Estados Unidos, China, Rússia e Índia”, afirmou.
O médico afirmou que é fundamental aumentar a vacinação em pelo menos 10 vezes, além de instituir um lockdown no país. “Essa é a receita de sucesso que os países que manejaram a pandemia usaram”, afirmou. Ele ainda deu o exemplo de três países que adotaram o lockdown e vivem hoje uma queda no número de novos casos e óbitos pelo coronavírus. O Reino Unido antes desse lockdown estava com 1.800 mortes diárias, era um dos epicentros da pandemia em dezembro de 2020. Ontem, o Reino Unido, depois do lockdown mais restrito, registrou 17 mortos”, disse.
Com informações do UOL e da CNN