
A taxa de abandono vacinal acendeu um novo alerta sobre as falhas na estratégia de imunização contra a Covid-19 adotadas pelo governo brasileiro. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 1,5 milhão de pessoas que tomaram a primeira dose da vacina não receberam a segunda dose, ou seja, não estão devidamente imunizadas.
O cenário piora à medida que se avança pelo interior do país. Em São Paulo, estado mais populoso do Brasil, o percentual de pessoas que não tomou a segunda dose é de 6%. Em contrapartida, no Amazonas, a taxa de abandono atinge os 13% da população.
É possível citar diversos fatores para tal descompasso. Ele é uma consequência direta da lentidão sentida nos primeiros meses de vacinação no país – janeiro e fevereiro – que levaram a atrasos na aplicação da segunda dose. No entanto, a falta de um maior número de vacinas para atender os grupos prioritários, especialmente em regiões mais periféricas, é um gargalo ainda não superado.
A diferença de ciclos entre as duas vacinas e a ausência de campanhas explicativas também agrava a situação. Há também riscos individuais, pois a falta da segunda dose compromete a proteção coletiva contra a Covid-19, algo que só será atingindo quando 70% da população estiver imunizada.
O Brasil vivencia, desde antes mesmo da chegada dos imunizantes, uma enxurrada de fake news sobre riscos das vacinas. Há uma total ausência de políticas de incentivo à imunização, tanto no sentido de convencimento, quanto na promoção de práticas mais eficazes como a busca ativa àqueles que estão aptos a receber uma das doses, mas ainda não o fizeram.
Falta planejamento para combater a Covid-19
Na avaliação do líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), a paralisação da vacinação em diversos estados é resultado da falta de planejamento e interesse de Jair Bolsonaro (sem partido). “Precisamos de ações reais e efetivas que compensem o tempo perdido com o negacionismo”, escreveu nas redes sociais.
Vacinação atrasada
Atualmente, o Brasil tem um dos menores percentuais de imunização entre os países com maiores densidades populacionais. Mesmo sanado o abandono vacinal e aplicada a segunda dose em todos os brasileiros que deixaram esta fase pendente, o percentual de imunizados ainda não seria superior aos 13% da população. Número aquém do necessário para se considerar o ritmo de imunização satisfatório.
As doses em atraso são da CoronaVac. Os imunizantes da Oxford/AstraZeneca têm recomendação de três meses de pausa e, portanto, não houve tempo para início da segunda fase já que eles começaram a ser aplicados somente em 23 de janeiro. No caso das doses da CoronaVac a pausa é de 28 dias no máximo.
Sem reserva para a segunda dose
Caso não haja um esforço do governo em aumentar o número de vacinas aportadas no país, o total de pessoas que tomaram apenas uma dose do imunizante pode ser ainda maior. Conforme levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) indicou, ao menos 1.426 cidades brasileiras não têm reserva de segunda dose.
A orientação de que não fossem guardadas vacinas para a segunda aplicação partiu do próprio Ministério da Saúde, em março deste ano. Pesquisas indicam que com apenas uma dose da vacina o organismo já é capaz de gerar alguma resposta positiva contra o vírus, mas, uma vez que a transmissão está muito acelerada, o risco de se contrair a doença ainda é alto.
Com informações do El País Brasil