
De acordo com levantamento realizado pelo jornal O Globo, em três semanas de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, já foram registrados ao menos 2.982 denúncias de possíveis casos de “fura-fila”. Isso significa que uma em cada 1.341 doses aplicadas no país teria sido endereçada a alguma pessoa fora dos padrões de prioridade estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Leia também: Brasil caminha para os 10 milhões de infectados
Entre os estados com mais relatos de infrações estão o Rio Grande do Norte, com 640; Minas Gerais, com 589; e Rio de Janeiro, com 413.
Para especialistas, o número de fraudes devem ser ainda mais maior. Isso porque moradores de muitos municípios podem temer denunciar ou nem sequer ter acesso a mecanismos de denúncia. Além disso, os diferentes critérios de prioridade para vacinação de cada município dificultam a fiscalização e o trabalho dos Ministérios Públicos.
“São mais de 2.500 pessoas que passaram à frente de outras 2.500 que poderão morrer da doença, em um ímpeto egoísta”, observa o professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp Gabriel Maisonnave.
A epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) entre 2011 e 2019, no entanto, afirma que o maior problema da vacinação no país ainda é outro. Devido à escassez de doses, essas infrações, por enquanto, não terão impacto a nível populacional. De acordo com ela, ainda não é possível falar em proteção coletiva.
Par a especialista, a enorme diferença de critérios adotados por municípios para a vacinação, o que confundiria a população e deixaria brechas para fraudes.
“O Ministério da Saúde delegou para os estados e municípios decidirem seus critérios de prioridade. Isso torna a campanha desorganizada e sem efetividade. Para se ter a compreensão da sociedade de que devem ser imunizadas as pessoas com risco, a comunicação tem de ser uniforme, e não cada lugar com uma estratégia, inclusive deixando políticos serem vacinados. E é preciso ser transparente com a população: dizer “não tem vacina suficiente”.”
Como muitas denúncias ainda estão sob investigação, os MPs ainda não apontam os principais “furadores de fila”. Mas, entre os nomes já divulgados pela imprensa, há anônimos, funcionários públicos, seus familiares e até políticos. No Piauí, por exemplo, prefeitos de duas cidades do interior do estado estão sendo investigados pelo MP após denúncias de que teriam tomado o imunizante mesmo não fazendo parte do grupo de risco.
Amazonas
Enquanto sofre com o número de casos de Covid-19, escassez de recursos de saúde e uma nova variante do coronavírus, o Amazonas segue com as investigações paradas. O MP está esperando a decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas para definir se o processo de investigação fica no âmbito estadual ou se vai para o federal.
Entre dias 1o e 3 de janeiro, a Ouvidoria-Geral do MP contabilizou 393 relatos recebidos e cadastrados no SAJ/MPAM.
Com informações do jornal O Globo