
Escassez de chips semicondutores transtorna a indústria mundial. EUA tentam controlar produção e bloquear acesso chinês, outros países apostam todas as fichas para atrair fabricantes de chips.
A corrida global por chips precisa ‘acordar’ a América do Sul, que não produz componentes, mesmo tendo minerais indispensáveis às novas tecnologias. A região sul-americana tem, por exemplo, reservas de matérias-primas imprescindíveis para a produção destes componentes, especificamente as baterias de lítio.
Os países correm contra o tempo para garantir suas reservas de chips, em meio essa crise que se desenvolveu em decorrência da pandemia.
Japão atrai fabricantes de semicondutores
O Japão publicou em nota que pretende atrair empresas estrangeiras de semicondutores, inclusive com bons incetivos financeiros. O país adotou essa postura como uma estratégia para garantir fornecimento de chips, em meio a esta corrida global.
“O Japão rapidamente igualará os esforços de outros países para atrair instalações de fabricação de chips de ponta para que possa construir uma cadeia de suprimentos segura em casa”, disse o documento apresentado em uma reunião de estratégia do Cabinet Office. O Gabinete deverá aprovar o documento até o final do mês.
O Japão importa mais de 60% de seus semicondutores, muitos deles de Taiwan e China. Persistem as preocupações de que as tensões possam comprimir as cadeias de abastecimento globais e interromper os embarques para suas próprias indústrias.
Isso ocorre no momento em que os Estados Unidos e a Europa fazem movimentos agressivos para reforçar seus suprimentos de chips, que são cada vez mais vistos como críticos para a segurança econômica nacional.
Investimentos altos para driblar a escassez de chips
A Coreia do Sul revelou planos ambiciosos de cerca de US$ 450 bilhões para construir a maior base de fabricação de chips do mundo na próxima década, entrando em uma corrida global com China e EUA para dominar globalmente essa tecnologia-chave para a indústria.
O projeto sul-coreano ecoa os esforços em andamento em todo o mundo para fazer face à escassez global de semicondutores agravada pela pandemia.
O presidente americano, Joe Biden, quer dedicar US$ 50 bilhões à pesquisa e produção de semicondutores nos Estados Unidos, e recebeu apoio de big techs como Apple, Google, Microsoft e Amazon.
A China destinou centenas de bilhões de dólares ao desenvolvimento de sua própria indústria de fabricação de chips para não depender de importações do Ocidente.
De olho nas matérias-primas da América do Sul
A Bolívia possui a maior reserva mundial de lítio, cerca de 28% das reservas mundiais; os Estados Unidos possuem a segunda maior reserva, cerca de 21% do total; o Chile, a terceira maior reserva, com 18% das reservas mundiais; e, por fim, a Argentina, sem posição definida, com 5,6%. Os jornais estadunidenses já relatam uma “corrida” sobre o acesso às salinas e minas de lítio de empresas estadunidenses nos Estados Unidos e com projetos de internacionalização.
Neste contexto que a declaração, nas redes sociais, do bilionário, Elon Musk, se constitui uma representação de um “imperialismo sincero”. A Tesla, empresa do bilionário, estaria prospectando a construção de uma fábrica de carros elétricos no Brasil – além das montadoras que ainda permanecem no país – dentre outros motivos pelo potencial acesso às fontes de lítio.
No Twitter, Elon Musk criticou a proposta de pacote de estímulo econômico da plataforma política do então candidato à presidência Bernie Sanders: “Outro pacote de estímulo governamental não é do melhor interesse das pessoas”. Em resposta, um usuário do Twitter comentou: “Você sabe o que não interessa às pessoas? O governo dos EUA organizando um golpe contra Evo Morales na Bolívia para que você possa obter lítio lá”. Em aparente plena franqueza, Musk fez a tréplica, “vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”.
Escassez de semicondutores já afeta produção da Tesla
Elon Musk disse em uma teleconferência de lucros que a escassez de chips no mundo está causando estragos na cadeia de suprimentos da sua montadora Tesla e comparou as empresas que pedem mais chips do que precisam, com a corrida dos consumidores para acumular papel higiênico nos primeiros dias da pandemia de Covid-19.
“Nosso maior desafio é a cadeia de suprimentos, especialmente os chips microcontroladores. Nunca vi nada parecido ”, escreveu o execuitvo numa rede social nesta quarta-feira. “O medo de ficar sem dinheiro está fazendo com que todas as empresas façam pedidos em excesso – como a escassez de papel higiênico, mas em escala épica.”
Musk disse que a escassez de chips era um “grande problema” e um dos mais difíceis desafios da cadeia de suprimentos que a empresa já enfrentou.
No mês passado, a consultoria AlixPartners estimou que as montadoras perderão cerca de US$ 110 bilhões em vendas este ano devido à escassez de semicondutores, quase o dobro da projeção anterior.
Bosch inaugura fábrica de chips na Alemanha
A Bosch antecipou em seis meses a inauguração de uma fábrica do componente na Alemanha, de onde abastecerá outras unidades do grupo, incluindo o Brasil. A solenidade de inauguração, nesta segunda-feira (07), foi feita de forma online e teve a participação da primeira ministra alemã, Angela Merkel, confirmando assim a importância da produção local de chips, hoje dominada por países asiáticos, embora a Bosch seja a sexta maior fabricante global do componente.
O evento teve também visita virtual à fábrica, que recebeu € 1 bilhão em investimentos (cerca de R$ 6,1 bilhões), parte financiada pelo governo local e por instituições financeiras da União Europeia.
Com informações do Outras Palavras