
Os Correios repassaram 73% dos resultados positivos acumulados ao seu único acionista, o governo federal, nos últimos 20 anos. Para críticos da privatização, os números reforçam que vender a empresa é um erro, especialmente devido à oferta de serviço no Brasil em lugares de difícil acesso no país.
Em pronunciamento em sessão plenária na Câmara dos Deputados, Camilo Capiberibe, parlamentar do PSB do Amapá, lembrou que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é a única a realizar envio e entrega de correspondências em pequenas cidades e comunidades ribeirinhas da Amazônia. O Projeto de Lei (PL) 591, que permite a privatização, está em pauta de votação da Casa.
“A empresa sempre foi capaz de entregar as cartas e as encomendas em cada canto do nosso estado, nos locais mais isolados.”
Camilo Capiberibe
O deputado também lembrou que a proposta de privatização dos Correios e de outras estatais lucrativas, como a Eletrobras, denunciam os interesses do governo federal. “Permaneço inconformado com o desmonte do estado brasileiro feito pelo governo Bolsonaro”, disse Capiberibe.
Entre 2001 e 2020, foram 16 anos de lucro e quatro de prejuízo. No total, a empresa acumula resultado líquido positivo de R$ 12,4 bilhões em valores atualizados pelo IPCA, e repassou R$ 9 bilhões em dividendos nesse período. A União recebeu dividendos dos Correios por 12 anos seguidos, de 2002 a 2013. Desde então a estatal não transferiu lucros, pois ainda se recupera do período de prejuízos.
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Como os Correios não são dependentes do Tesouro. Isso significa que a estatal se mantém com os próprios recursos, sem precisar de aportes frequentes de dinheiro público para fechar as contas. De acordo com Marcio Pochmann, doutor em economia e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas/SP), o governo quer vender empresas lucrativas para fazer caixa, algo que só interessa a quem está no poder.
“O governo não tem um projeto de país. Estamos vivendo o ‘presentismo’, vendendo o almoço para comprar o jantar. Estamos cancelando o futuro”, explicou Pochmann. O economista afirma que não há comprovação de que vender empresas diminua a dívida pública e renda bons resultados a longo prazo.
Pochmann defende que a economia poderia ser híbrida, com o Estado atuando em áreas nas quais a iniciativa privada é insuficiente. Se a estatal for lucrativa, tanto melhor, mas esse não é o principal fator a ser observado. Assim como Capiberibe, o professor ressalta que, no caso dos Correios, o investimento público seria necessário para garantir a entrega de correspondências em todo o território nacional a preços acessíveis.
Com informações do UOL