
Segundo reportagem do jornal O Globo, as medidas de isolamento em todo o mundo estão impedindo que algumas pessoas LGBT+ com HIV obtenham o tratamento que salvam suas vidas – e estão potencialmente colocando seu sistema imunológico comprometido em risco caso contraiam a Covid-19, de acordo com organizações de combate a HIV/Aids.
De Uganda, Quênia e Moçambique ao Líbano, Quirguistão e Trinidad e Tobago, grupos de direitos humanos relatam casos de minorias sexuais forçadas a interromper o tratamento devido às ordens de permanecer em casa, apesar de alguns esforços do governo e de ONGs para tentar ajudá-los.
Matteo Cassolato, líder técnico de HIV na organização beneficente Frontline Aids, disse que estavam recebendo um número crescente de pedidos de subsídios de grupos LGBT+ de base cujos membros estavam lutando para obter seus medicamentos por causa do coronavírus.
Cassolato conta que sua organização acaba de aprovar uma doação para apoiar pessoas trans em Trinidad e Tobago, que enfrentam dificuldades em obter remédios devido ao confinamento. O horário de funcionamento limitado e a alta demanda nas unidades de saúde e farmácias impediram pessoas trans – que são mais visíveis e podem sofrer assédio – de buscar medicamentos, disse.
Panorama
Atualmente, quase 38 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pelo HIV, com a pandemia da Aids matando cerca de 35 milhões de pessoas em todo o mundo desde o início dos anos 80.
Homens gays representam quase 20% das novas infecções pelo HIV e têm 27 vezes mais chances de se infectar com o vírus do que outros homens, de acordo com a Unaids.
Enquanto isso, as mulheres trans têm um risco de adquirir o HIV 12 vezes maior que a população em geral, afirmou a Unaids, acrescentando que 16,5% das mulheres trans vivem com HIV.
O HIV não pode ser curado, mas a infecção pode ser controlada com medicamentos anti-retrovirais, ou ARVs, que ajudam a diminuir os níveis virais, de modo que o vírus não é transmissível e previne a Aids.
Ativistas disseram que enquanto cerca de 60% das pessoas que vivem com HIV/Aids têm acesso a medicamentos, o lockdown dificulta as minorias sexuais que já vivem à margem da sociedade.
Preconceito
Muitos vivem em países onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são criminalizadas e a homofobia generalizada, sofrendo discriminação no local de trabalho, moradia, educação e assistência médica.
E, à medida que a Covid-19 continua cobrando seu preço em todo o mundo, pessoas LGBT+ não são apenas culpabilizadas e visadas, as paralisações também dificultam que obtenham medicamentos e uma renda, deixando-as ainda mais à margem, afirmam grupos de direitos LGBT+.
Centros de saúde de acolhimento LGBT+ em muitos desses países foram forçados a fechar ou restringir seus horários de funcionamento e, em alguns locais, os serviços de HIV/Aids foram redirecionados para o combate à pandemia da Covid-19.
Algumas pessoas LGBT+ também foram forçadas a parar de tomar seus medicamentos, pois não têm dinheiro para comprar alimentos e não podem suportar os remédios fortes com o estômago vazio.
Muitas pessoas LGBT+ são geradoras de renda diária trabalhando em bares, cassinos ou em outros locais de reunião que foram fechados durante a quarentena, então não têm dinheiro para comer.
Proteção
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não há evidências de que o risco da Covid-19 seja diferente entre as pessoas que vivem com HIV que estão em tratamento em comparação com a população em geral. Mas afirmou que aqueles com HIV avançado que não tomam ARVs podem ter um risco aumentado de infecções e complicações de saúde relacionadas ao coronavírus.
A Unaids pediu aos governos que garantam recursos para programas de saúde sexual/HIV sensíveis às necessidades das pessoas LGBTI e certifiquem o acesso contínuo aos anti-retrovirais, por exemplo por meio de distribuição por vários meses, entregas em domicílio e consultas virtuais.