
O discurso anticorrupção de Jair Bolsonaro (PL) é a cada dia mais insustentável assim como o de “casos isolados” de desvios no governo, como alega o atual presidente. O PL, legenda do centrão que acolheu Bolsonaro e dominou o governo, usou dinheiro público para beneficiar empresas de dirigentes do partido e aliados.
O jornal O Globo fez um levantamento com base na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral e descobriu uma série de pagamentos no mínimo suspeitos feitos pelo partido.
Como um gasto de R$ 168,9 mil para a contratação de uma consultoria, a MG2 Consultoria e Assessoria, que pertence a Garigham Amarante, diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e homem de confiança de Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
O curioso é que a empresa do diretor do FNDE deve apresentar relatórios justamente sobre o Ministério da Educação e ao FNDE.
Ao TSE, o PL informou reuniões que foram realizadas por executivos da consultoria e, conforme apuração do jornal, o próprio documento mostra coincidência das agendas da empresa e de Amarante, como em 21 de setembro de 2021, em que a empresa informa uma reunião com o ex-deputado Henrique Oliveira.
No mesmo dia, segundo a agenda oficial de Garigham Amarante no FNDE, há o registro de um encontro com o mesmo ex-parlamentar.
O Globo conversou com o ex-deputado que afirmou conhecer Garigham desde a época em que o diretor ainda trabalhava como assessor na Câmara dos Deputados. Disse ainda que o encontro foi para parabenizá-lo pela indicação para o cargo. A reunião, afirmou, foi a sós. Mais que isso, o ex-deputado negou conhecer a empresa M2G.
A lei permite que pessoas que ocupem cargos em órgãos públicos integram o quadro societário de empresas, desde que não sejam sócio-administradores.
O diretor do FNDE afirmou ao jornal que “não presta, pessoalmente, tal serviço a nenhum partido político” e que sua empresa “presta serviços de natureza técnica, com base em informações de fontes abertas e, portanto, não há incompatibilidade entre a atividade de servidor público e a condição de sócio-cotista da M2G”.
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Cursos à distância em sites fora do ar
Uma das maiores despesas ligadas ao comando do partido se referem à contratação de um curso à distância pelo PL Mulher. O site, porém, está fora do ar.
O valor de R$ 606 mil, porém foi pago para duas empresas que têm como sócio Henrique de Lima Vieira, próximo ao deputado Zé Vitor (PL-MG). Uma das notas fiscais mostra que a empresa Cidade Positiva recebeu R$ 14 mil pela administração do site Reaja, Mulher, que sequer teve o endereço registrado, assim como os perfis no Twitter (mulherreaja) e Instagram (Reajamulherdigital), dos quais não há qualquer registro.
A reportagem falou com Henrique Vieira, sócio das empresas, fotógrafo que já prestou serviços para Zé Vitor, inclusive tirando fotos do casamento do deputado e que nas redes chama o deputado de amigo.
Ele negou irregularidades no serviço, alegou que os conteúdos saíram do ar porque o contrato acabou e disse que o tal curso de formação teve início em Minas Gerais e foi levado ao PL Mulher pelo parlamentar. Disse também que quase mil pessoas fizeram o curso, mas não apresentou nenhuma comprovação disso.
Além do PL, a empresa Cidade Positiva presta serviços a Zé Vitor, que já desembolsou R$ 438 mil da Câmara dos Deputados para a divulgação parlamentar do deputado. Também administra o Hora Minas, site registrado em nome de Zé Vitor, que divulga informações positivas sobre o trabalho do deputado.
Apesar disso, Vieira nega que o deputado hoje tenha qualquer relação com o site. O parlamentar não se manifestou.
Parlamentar alugou o próprio imóvel para ele mesmo trabalhar
Em 2021, o diretório do PL no Tocantins desembolsou R$ 10 mil para pagar o aluguel de sua sede, que pertence ao então presidente da sigla no estado, deputado Vicentinho Júnior.
“O aluguel da sala aqui no prédio era mil reais (por mês). Se você fizer uma consulta, aqui é R$ 1,2 mil o aluguel. Fica meu escritório em uma sala, e a sede do PL ficava em outra sala, de frente”, alegou ao Globo o parlamentar que atualmente está no PP.