
Em meio às recentes polêmicas sobre nazismo no Brasil, é importante lembrar que o pré-candidato à Presidência Sergio Moro (Podemos) também já demonstrou publicamente alguma relação com os Proud Boys – uma organização política neonazista de extrema-direita que admite apenas homens como membros e que promove e se envolve em violência politica nos Estados Unidos e Canadá.
Apesar de importante, voltaremos a essa história logo mais. Antes é preciso contextualizar que Moro se enrolou e fugiu do assunto nazismo ao tentar defender o colega de partido, Kim Kataguiri, durante entrevista ao programa “Jogo do Poder“, da “Rede Meio Norte“. O ex-juiz cumpriu agenda no Nordeste e na última quinta-feira (11) esteve na cidade de Teresina, no Piauí.
Em entrevista ao Flow Podcast, nesta segunda-feira (7), o parlamentar ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) manifestou apoio às declarações do apresentador Bruno Aiub, o Monark, que defendeu a criação de um partido nazista no Brasil.
“Em relação a essa fala ele [Kataguiri] já pediu desculpas a todas as pessoas, como tem que ser. Tem que realmente pedir desculpas nesse caso. Agora ele tem um histórico como parlamentar, e nós vamos apagar esse histórico porque ele cometeu esse erro brutal, mas não reflete o que ele pensa, foi uma gafe verbal”, disse Moro.
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Tentando desviar do assunto ao ser confrontado pelos jornalistas, o ex-juiz suspeito afirmou: “Eu disse que ele cometeu um erro brutal, agora quem tem que responder por isso é ele, não eu”. “Mas eu só queria a sua opinião”, rebateu uma das entrevistadoras do programa.
“Eu falo por mim e digo as minhas palavras”, respondeu Moro. “Então o senhor considera uma gafe, e não um crime?”, questionou a jornalista.
Após alguns segundos em silêncio, Moro disse: “Eu acabei de falar para você que foi um erro brutal, não coloque as palavras na minha boca, eu deixei muito clara a minha posição sobre esse tema”. O ex-juiz, no entanto, repetiu diversas vezes a palavra “gafe”.
Assista ao vídeo:
A relação com o nazismo
A antropóloga Adriana Dias, pesquisadora da PUC de Campinas que há anos investiga grupos neonazistas e de extrema-direita, usou as redes sociais para resgatar uma foto em que o ex-ministro Sergio Moro, candidato à presidência pelo Podemos, aparece ao lado de um líder do grupo neonazista Proud Boys.
O ministro Bruno Dantas atendeu ao procurador Lucas Furtado e quer saber se a empresa foi beneficiada ao se envolver na recuperação da Odebrecht e de outras organizações investigadas por Moro, já que, conforme dito em despacho anterior, atos de Moro “naturalmente” contribuíram para a queda da empreiteira.
“Essa foto representa o fato de que Moro, em algum momento, simpatizou com o Proud Boys. Ele tirou foto com o Proud Boys ao mesmo tempo que Bolsonaro tirou. O compromisso dele com Bolsonaro é o mesmo que com o Proud Boys”, disse Dias à Fórum sobre a foto.
“Ele nunca comentou sobre o assunto. É muito importante entendermos esse laço dele com o Proud Boys, Moro nunca comentou sobre o laço com essa direita, nunca deu uma explicação”, completou.
“Até onde esse contato de Moro com esse grupo se deu? É importante sabermos disso. Moro tem dificuldade de tornar a vida dele transparente e um presidente da República precisa ser transparente”, disse ainda.
Em artigo publicado junto à pesquisadora Adriana Vespasiana na Fórum em março, Dias aponta que “o Proud Boys é um grupo de ciberódio, terrorismo e antissemitismo, segundo a classificação da ADL[1], fundado em 2016, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos”.
“O grupo pode ser caracterizado como um grupo de extrema direita, ultranacionalista e masculinista. Percebe-se em seus atos e manifestações uma exteriorização de discursos de ódio que o grupo propaga, como por exemplo o antissemitismo e o negacionismo, com a negação do Holocausto”, apontam.
No Brasil a divulgação do grupo foi realizada, por algum tempo, por Hiram Galdino Torres – que possui o nome do grupo tatuado. Hiram é justamente quem aparece na foto com Moro. O registro foi feito durante viagem da comitiva do presidente Jair Bolsonaro à reunião de Davos em 2019.
A cobrança de Dias acontece no mesmo dia em que Moro tenta dar explicações sobre investigação realizada no Tribunal de Contas da União sobre o contrato do ex-juiz com a empresa Alvarez & Marsal.
Por Revista Fórum