
O Congresso do Peru decidiu nesta segunda-feira (16) que o novo líder do Parlamento será o deputado e engenheiro Francisco Sagasti, 76, do partido Morado, de centro. Ele recebeu 97 votos a favor e 26 contra.
Com a escolha, os peruanos verão atuar o quarto presidente em um único mandato, já que Sagasti também prestará juramento nesta terça-feira (17) como líder interino do país. A perspectiva é a de que ele termine a gestão iniciada em 2016, com Pedro Pablo Kuczynski, e prevista para acabar em julho de 2021.
Em paralelo, o Tribunal Constitucional peruano analisa um recurso pedido por Martín Vizcarra, presidente afastado pelo Congresso há uma semana e cujo afastamento gerou a atual crise institucional no país. Caso a corte chegue à conclusão de que o processo contra ele foi ilegal, Vizcarra retomaria o cargo.
Depois de ser afastado, sob a justificativa de “incapacidade moral”, o hoje ex-presidente deu lugar ao então líder do Congresso, Manuel Merino de Lama, que, por sua vez, decidiu renunciar no domingo (15), acuado por manifestações na capital Lima e em outras cidades do país.
Violência e protestos no Peru
No sábado (14), dois jovens, de 22 e 24 anos, foram mortos pela polícia, o que inflamou ainda mais os ânimos. Ao menos 90 pessoas ficaram feridas nos atos, e há também 20 desaparecidos.
Os que protestavam contra o afastamento de Vizcarra dizem que Merino não os representa, que havia ocorrido um golpe no Peru e que o Congresso estava avançando contra a democracia. Diante da pressão, os próprios congressistas que escolheram Merino pediram ao recém-empossado presidente que renunciasse. Ele o fez, por meio de uma carta, votada e aprovada na noite de domingo.
Com manifestantes cercando as ruas próximas ao Congresso, o Parlamento começou a buscar saídas para a crise. Uma reunião entre os líderes de bancada definiu que o novo líder seria escolhido pelos congressistas que não votaram a favor da destituição de Vizcarra – uma tentativa de acalmar a situação.
Nome de deputada foi rejeitado
A primeira tentativa, porém, não funcionou. O nome da deputada Rocío Silva-Santibañez foi apresentado e derrotado por 52 votos a 42. Santibañez, de esquerda, chegou a ouvir insultos de vários congressistas: “Comunista de m…”, “vão colocar o aborto na lei” e “vermelha!”, por exemplo.
Na maioria das vezes, as ofensas eram ditas como desabafos, já que muitos congressistas se esqueciam de desligar o microfone. Assim, era possível ouvi-los conversando em casa – a sessão foi feita de modo virtual. “Essa comunista quer acabar com a família peruana”, disse uma parlamentar.
Quem é Francisco Sagasti
Agora, Francisco Sagasti Hochhausler desponta como possível saída. De origem austríaca, ele se formou em engenheira industrial no Peru e fez doutorado na Universidade da Pensilvânia (EUA). Em 1996, foi sequestrado durante a invasão da residência do embaixador japonês pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru, mas liberado dias depois. Eram anos de muita violência política no Peru.
No Congresso, logo após ser escolhido pelos colegas, nesta segunda, disse que a primeira tarefa é reconciliar o país após as duas mortes durante os atos nos últimos dias. “Não bastou a pandemia, tivemos de viver a tragédia da morte desses dois jovens para darmo-nos conta da gravidade de nossa crise.”
Sagasti disse ainda que “fará o possível para devolver a confiança à população e que escutará a voz das ruas para transformá-las em políticas públicas”. Após o juramento que deve fazer como presidente, nesta terça-feira, ele deve se tornar mais um líder em um ciclo de grande instabilidade na política peruana.
Com informações da Folha de S.Paulo