
Lideranças políticas condenaram, nesta segunda-feira (26), mais uma fala polêmica de Jair Bolsonaro (sem partido) a respeito da vacina para a Covid-19. Diante de apoiadores, o presidente afirmou nesta segunda que não entendia a pressa em relação ao imunizante e declarou que considerava mais interessante investir na cura para o coronavírus do que na vacina contra a doença.
Nas últimas semanas, ele já havia atacado a produção da Coronavac, vacina que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Após o Ministério da Saúde afirmar que havia solicitado 46 milhões de doses da vacina, Bolsonaro rebateu e afirmou que “o povo brasileiro não seria cobaia da vacina chinesa”.
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Segundo a Universidade Johns Hopkins, o mundo já acumula 43 milhões de contaminados pelo coronavírus. A doença também já matou mais de 1,1 milhão de pessoas, sendo 157 mil óbitos apenas no Brasil.
“157 mil brasileiros morreram em razão da Covid-19, mas Bolsonaro continua apostando na confusão para ganhar politicamente: enquanto gera desinformação sobre a vacina, vende o ‘milagre’ da cloroquina, já descartada pela ciência. Absurdo!”, reagiu o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (RJ).
A partir das redes sociais, o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira (PSB) reforçou a importância do investimento em pesquisas e a necessidade de conter o avanço da pandemia. “A urgência de uma vacina contra a Covid é imprescindível para salvar vidas. Vale a pena qualquer investimento em ciência e pesquisa, garantindo o direito de todos à vacinação. Desde que seja segura, a vacina será muito bem-vinda, o quanto antes”.
Vacina e os custos da pandemia
Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) buscou ser didático ao explicar os custos gerados pela pandemia que parecem ter sido ignorados pelo presidente. “Temos o único presidente do planeta que acha mais ‘barato’ tentar tratar uma doença do que evitá-la. Não seria melhor deixar esse tema com os cientistas e profissionais de saúde? E Bolsonaro não acha ‘caro’ termos milhões de pessoas doentes, hospitalizadas ou mortas?”, questionou.
Companheira de partido, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) usou a ironia em suas redes para rebater Bolsonaro. Ao postar fotos emblemáticas do impacto da pandemia na vida da população brasileira, como as inúmeras covas abertas em Manaus, a parlamentar escreveu: “Bolsonaro: ‘Não sei pra que essa pressa pra vacina’. Pois é, gente, tá tudo tão tranquilo…”.
Crime de responsabilidade
Candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) foi taxativo. “‘Não sei porque correr com a vacina.’ 20 milhões de crianças em idade escolar há meses fora da sala de aula. Mais de 10 milhões de pessoas com mais de 60 anos. 154 mil famílias que perderam entes queridos. Elas sabem, Bolsonaro”, disse em resposta ao chefe de Estado.
Convocando Ciro Gomes, vice-presidente nacional de seu partido, o líder da oposição da Câmara, deputado André Figueiredo (PDT-CE), disse ter visto mais um crime de responsabilidade cometido pelo presidente. “Olha isso, Ciro Gomes! Mais um vídeo para anexar ao processo contra esse cidadão, por crime contra a saúde pública brasileira! No Brasil e nos tribunais internacionais!”, sinalizou.
Bolsonaro: entre o descaso e o desconhecimento
Deputada federal pelo PT, Margarida Salomão (MG) chamou de ‘revoltante’ a indiferença do mandatário com a saúde da população. “O descaso de Bolsonaro com a vida das pessoas é revoltante!”.
Em entrevista à Rádio do Brasil Atual, o médico, neurocientista e professor catedrático da Duke University Medical School, Miguel Nicolelis, disse ter visto na declaração de Bolsonaro mais uma prova de sua desinformação. “Dizer que não vale a pena investir numa vacina e que é preferível achar uma cura, mostra um completo desconhecimento do método de combater uma pandemia”, atestou.