
A menos de três meses da eleição, diferentes pesquisas apontam para uma larga vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial. A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na quinta-feira (28), mostra o petista com 47% das intenções de voto, seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 29%, e Ciro Gomes (PDT), com 8%.
Todos os demais candidatos não superaram 2%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Contudo, em todo ano eleitoral, brasileiros e brasileiros levantam dúvidas em relação aos números das pesquisas. É comum o tema gerar desconfiança e questionamentos, ainda mais de quem aparece mal posicionado na corrida eleitoral.
Em reportagem da BBC News, é esclarecido como funcionam as pesquisas eleitorais — como o levantamento do Datafolha — e os critérios rígidos que precisam ser seguidos para que elas consigam de fato captar a intenção de voto dos eleitores. E explica também porque mesmo assim o resultado das urnas pode ser diferente do que indicavam as sondagens. Confira:
Quem faz as pesquisas eleitorais?
Em primeiro lugar, é importante saber que as pesquisas eleitorais não acontecem somente no período das eleições. Periodicamente, são realizados levantamentos sobre a popularidade de candidatos e governantes. Você já deve ter visto, por exemplo, pesquisas com índices de aprovação ou rejeição daquele politico da sua cidade. E antes das eleições, lembra-se de pesquisas que mostravam quem venceria a eleição para presidente, caso ela acontecesse ainda naquele ano? Pois então, essas são tipos de pesquisa eleitoral.
Elas costumam ser encomendadas por grupos de mídia e são um importante instrumento na cobertura jornalística, antes e durante as eleições. As pesquisas também ajudam os partidos políticos a avaliarem o desempenho das suas campanhas e auxiliam o eleitor a analisar as chances de seu candidato vencer nas eleições.
É claro que no período eleitoral o número de pesquisas aumenta, sendo feitas diariamente em alguns lugares. Com tantas pesquisas, surge uma série de dúvidas sobre sua realização, principalmente sobre elas serem ou não confiáveis.
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Por que somente algumas pessoas são escolhidas para participar?
Diferente de um censo, onde toda uma população é ouvida para que se tenha um resultado 100% representativo, as pesquisas eleitorais são realizadas levando em conta uma amostragem, isto é, um grupo de pessoas que representará toda a população. Estas pessoas são escolhidas de forma aleatória em diversas localidades, em uma espécie de sorteio.
O primeiro passo da pesquisa é definir a quantidade de pessoas que serão ouvidas. Este número é decidido a partir de um cálculo, que leva em conta a margem de erro, que é a variação possível em torno de um resultado, e o nível de confiança, isto é, o número de vezes em que a pesquisa dará um resultado semelhante se for repetida.
E se as pesquisas entrevistam somente um grupo de pessoas, como elas representam toda a população?
Funciona da seguinte forma: as pessoas escolhidas para compor este grupo são selecionadas levando em conta características que representam o conjunto de todos os eleitores. Estas características podem ser idade, gênero, escolaridade, distribuição de renda, entre muitos outros. A localidade costuma ser um fator muito importante.
Não existe um número exato de pessoas entrevistadas. Geralmente é algo entre 1 mil e 4 mil eleitores. O Instituto Datafolha, por exemplo, considera entre 2 mil e 2,5 mil pessoas em suas pesquisas eleitorais. Nas eleições municipais, o número de entrevistados varia de acordo com o tamanho do município.
A amostra, que é o grupo de pessoas entrevistadas, é definida também pelo tipo de eleição que está sendo realizada. Por exemplo, a pesquisa para uma eleição estadual considera vários municípios dentro daquele estado pesquisado, geralmente as cidades escolhidas são as mais populosas. Por sua vez, uma pesquisa para a eleição presidencial seleciona pessoas de vários estados ao longo do território brasileiro.
Nas pesquisas para eleições municipais, as pessoas entrevistadas são escolhidas ao longo dos bairros da cidade.
O perfil dos eleitores que responderão à pesquisa é selecionado a partir de um banco de dados. As principais fontes utilizadas para essa coleta são o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Justiça Eleitoral.
Pesquisas eleitorais são confiáveis?
Ainda que as pesquisas sejam feitas com vários critérios, dados confiáveis e a supervisão de um estatístico, as pesquisas eleitorais não se baseiam em valores absolutos, mas sim em estimativas. Além disso, a validade das pesquisas eleitorais depende da opinião pública, que varia constantemente. Por isso os resultados não são exatos, e são acompanhados sempre da chamada margem de erro.
A margem de erro é o índice que determina a estimativa máxima de erro que o resultado de uma pesquisa pode ter. Ela vem sempre acompanhada do nível de confiança, que é o número de vezes que a pesquisa pode ser repetida e o resultado será sempre um valor próximo.
Por exemplo: vamos supor que um candidato apareça com 23% das intenções de voto. Levando em consideração a margem de erro padrão de 2 pontos percentuais, ele terá entre 21% e 25% dos votos. Se repetirmos esta pesquisa, ela deverá apresentar este mesmo resultado em 95% das vezes em que for realizada, já que este é o percentual padrão do nível de confiança.
A margem de erro também determina quantas pessoas deverão ser entrevistadas. Quanto mais se desejar uma pesquisa com um maior nível de confiança e uma menor margem de erro, mais pessoas deverão ser ouvidas.
Portanto, a única forma de uma pesquisa não apresentar margem de erro é através da realização de um censo.
Por que o resultado das urnas nem sempre bate com as pesquisas?
Ainda que a pesquisa realizada tenha seguido todos os padrões de excelência, mesmo assim seu resultado pode ser diferente dos votos computados pelas urnas — e isso não significa que a pesquisa “errou“.
Os especialistas explicam que a pesquisa eleitoral é um “retrato do momento”. Ela mostra qual seria o resultado provável caso a eleição ocorresse no mesmo período do levantamento. No entanto, como muitos eleitores mudam seu voto ou escolhem seu candidato apenas próximo ao dia da eleição, ou mesmo no próprio dia de votação, é esperado que os resultados das pesquisas se modifiquem ao longo da campanha e sejam diferentes do saldo das urnas.
“A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não medem o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento”, afirma Márcia Cavallari, diretora do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo IBOPE
Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto.
“Via de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas de tendência apontadas pelas pesquisas”, ressalta a diretora do Ipec.
Para ilustrar seu ponto, Cavallari chama atenção para a evolução das intenções de voto em Bolsonaro e Haddad nas semanas anteriores ao primeiro turno de 2018, medidas por dez pesquisas do antigo IBOPE.
Elas mostram que, no final de agosto, Bolsonaro liderava a corrida eleitoral com 32% das intenções de voto. Esse percentual foi subindo paulatinamente até chegar a 41% na véspera do primeiro turno (dia 6 de outubro). Já a pesquisa de boca de urna do dia da eleição (7 de outubro) indicou que 45% dos eleitores haviam votado em Bolsonaro.
Esse número ficou muito próximo do resultado oficial das urnas divulgado pelo TSE: o futuro presidente recebeu 46% no primeiro turno.
O mesmo ocorreu com Haddad. Ele começou com apenas 6% de intenção de voto em 20 de agosto, e as pesquisas mostraram seu percentual subindo até chegar a 25% no dia 6 de outubro. Já a pesquisa de boca de urna indicou o apoio de 28% dos eleitores, enquanto o resultado oficial do TSE mostrou 29% de votos para o petista.
Com informações da BBC, Politize e TSE