
Nesta manhã fria de sábado (3), enquanto me aqueço para o ato #ForaBolsonaro, que espero seja grande e intenso, ouço atentamente a entrevista do pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, no Canal da Uol. Uma boa entrevista, bem ao seu estilo de destilar adjetivos em propulsão e economizar substantivos, com pitadas de jactâncias típicas.
O fato é que em meios a platitudes proselitistas o Ciro aborda e deixa nítido suas intenções e desejos. Faz críticas duras, ao meu ver algumas delas, justíssimas, ao período do que ele chama de governo “lulo-petismo”(termo que utilizo sempre, pois sintetiza, ao meu ver, bem o que este fenômeno).
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As críticas importantes, que ao meu ver devem ser consideradas, como a ausência de uma estratégia de desenvolvimento, por parte dos governos no período citado. Falta de coragem para ao menos tentar a implementação de reformas de certo caráter estrutural como a Tributária; Judiciária; meios de Comunicação etc.
Também critica o que eu considero um grave erro na educação que é o FIES, sistema que enriqueceu brutalmente empresários picaretas da educação privada e deixou, sem dúvidas, milhares de estudantes mal formados, mal informados, desempregados e com nomes sujos no SPC. Criando um paraíso para as instituições privadas de “ensino”, enquanto que o ensino médio, técnico profissionalizante ficou relegado a nenhum, na prática plano.
Sim, o lulo-petismo, teve no poder uma postura messiânica arrogante e apoiada num boom de commodity mundial criou um tal de “nacional consumismo” que conjunturalmente ajudou muito o país mas que não tinha a perenidade necessária.
Em resumo, do ponto de vista econômico, social e político os governos do PT, não tinham um norte estratégico consistente que desvendasse as veredas pelas quais o país e o nosso povo teriam que caminhar rumo a um porto mais seguro. Era, também nesse sentido, um governo mais, bem mais, diria, que quase exclusivamente tático, que aparentava desprezar a estratégia ou os objetivos a longo prazo.
Ciro erra com a cantinela moralista
Mas o Ciro comete, ao meu ver, um equívoco grave quando sucumbe a cantilena moralista da “anti-corrupção”.É verdade que essa “bandeira” udenista que estimula a hipocrisia na política e na vida dá manchetes em jornais e na mídia. E, por isso, atrai atenção do público. Este tema mereceria, por suas conotações psico-sociais, um texto à parte. Mas alguém já se perguntou por que desde há muito tempo se fala ou se tenta dividir o mundo da política entre os que são pegos em atos de corrupção e os que se dizem contra a corrupção que ainda não foram flagrados?
Pois é Getúlio foi acusado de corrupção; os militares deram o golpe dizendo-se contra a corrupção e saíram com as mãos sujas de dinheiro público, o Collor elegeu-se sob o slogan: “Caçador de Marajás”; o PT criou em 1994 uma campanha “Xô Corrupção”; O Temer assumiu por ter sofrido um impeachment uma mulher cujo Partido e governo foi acusado de corrupção; Bolsonaro ganhou a eleição tendo um de seus principais motes “a luta contra a corrupção”…
A experiência histórica nos mostra que não é uma boa utilizar tal recurso para ocupar espaços na mídia e que tais retóricas não têm durabilidade. Aí o Ciro erra feio pois tentar desqualificar o Lula por seus processos e estigma não ajuda o país e nem a si próprio.
O Lula, não é nenhum Mandela, Gandhi ou “mito” da esquerda como dizem e acreditam os lulistas, cometeu equívocos graves, permitiu ou foi negligente em vários casos, misturou alhos com bugalhos e se achou, como todo o PT no governo, o “Cara”!
Entrou na esparrela de que as elites o aceitariam de bom grado já que, embora oriundo da Classe Operária, nunca pregou, defendeu ou flertou com a “revolução”. No fundo foi um iludido, embora bem intencionado e querido por parte da população. Não teve capacidade teórica, intelectual e envergadura para entender a fundo o papel que a história lhe reservara. Mas fez um governo acima da média do ponto de vista dos trabalhadores, do povo e do Brasil!! Merece o nosso respeito e se for candidato tem todo o direito de defender o que considera certo de seu legado.
Esculhambar como faz o Ciro, não é correto! O desejo de Gomes é formar uma frente de centro direita com parte da centro-esquerda e assim se cacifar para chegar a um 2º turno. Um direito inquestionável dele! Mas, sinceramente, penso que por este caminho, não irá lograr êxito. Dizer uma coisa e fazer outra é oportunismo e os eleitores não gostam disso.
Cuspir no prato em que comeu é um traço da personalidade de Ciro que o acompanha em todas as legendas em que foi filiado e não foram poucas. PP, PSDB, PPS, PSB, PROS, PDT talvez seja a hora de parar de jactar-se e buscar um caminho para construir juntos com os que acreditam no Brasil um futuro que tanto precisamos!
*Em Tempo: considero a corrupção um mal real a ser combatido duramente. A gênesis dela está no sistema capitalista, afinal não existe corrupção sem corruptores. Afastar a Política do dinheiro deve ser o objetivo de todos que querem um Brasil verdadeiramente socialista.
JJ (Jairo Junior) é jornalista, sociólogo, produtor cultural e capoeirista