
Municípios com até 20 mil habitantes, inicialmente pouco afetados pela Covid-19, registraram uma explosão de casos no segundo semestre de 2020 e registraram maior crescimento percentual de mortes no período.
Um levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo apontou que enquanto o percentual de óbitos no Brasil cresceu 227% no segundo semestre em relação ao primeiro no ano passado, nos 3.797 municípios com até 20 mil moradores houve um aumento médio de 503%. O coronavírus já chegou a todos os municípios brasileiros e ultrapassou as 200 mil mortes no país.
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Os dados revelam ainda que quanto menor a faixa de população do município, maior foi esse crescimento. Nas cidades com até 5 mil habitantes o aumento foi de 850%, já nas de 5 a 10 mil, 603%, e nas de 10 a 20 mil, 434%.
Apesar desse aumento, ainda há 544 municípios que não registraram nenhuma morte. Todos com até 30 mil habitantes. Já os casos chegaram a todas as partes do Brasil após Cedro do Abaeté, em Minas Gerais, atingir seu primeiro caso em dezembro.
Interiorização da doença
Especialistas associam esse maior crescimento em cidades com menos habitantes no período a dois fatores: interiorização da doença, que havia chegado primeiro aos grandes centros, e falta de estrutura das cidades de pequeno porte para atender pacientes graves.
Tarcísio Marciano da Rocha Filho, professor do Instituto de Física da UnB (Universidade de Brasília), avalia o que maior crescimento em cidades de pequeno porte no segundo semestre tem relação com a interiorização da doença.
A Covid-19 começou nas grandes cidades, por onde o coronavírus entrou no país, e avançou para cidades menores no interior.
“Quanto menor o município, maior a tendência de demorar a começar a doença porque tem menos pessoas de fora circulando. Quando começa na cidade, a própria população alimenta esse aumento. A forma como o gestor e a população vai lidar com o vírus vai influenciar no crescimento dos casos e, consequentemente, no número de mortes”, disse.
Saúde aponta transição dos casos
O Ministério da Saúde informou, em nota, que é possível identificar uma transição dos casos e mortes de Covid-19 das regiões metropolitanas para as interioranas do Brasil. Na análise da pasta, entre 22 a 28 de março, 87% dos casos novos foram registrados nas capitais e regiões metropolitanas.
A partir dos dias 14 de junho a 2 de janeiro a maioria dos casos novos foram registrados em cidades do interior. Durante este período a porcentagem dos casos em região interiorana variou de 51a 65% a depender da semana epidemiológica.
A pasta acrescentou que em relação aos óbitos novos, houve um comportamento similar, pois 89% das mortes eram registradas em regiões metropolitanas entre 22 a 28 de março. Entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro essa tendência se inverteu, quando as regiões interioranas alcançaram 53% dos óbitos novos no país.
“É importante esclarecer que existem variações na porcentagem de casos e óbitos pela Covid-19 ocorridos nas regiões metropolitanas e interioranas que são constantemente observadas e analisadas pelo ministério da Saúde”, disse em nota.
Água Branca, no Piauí, tem 17 mil habitantes e representa uma das cidades com mais mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram 47 óbitos, sendo que 34 ocorreram no segundo semestre.
Com informações da Folha de S.Paulo