
A China se comprometeu a ajudar o Talibã a reconstruir o Afeganistão. O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, participou da primeira reunião de alto nível entre seu país e o grupo extremista, nesta segunda-feira (25), desde a tomada de poder no Afeganistão e a instituição do governo interino, em setembro de 2021.
A reunião foi realizada com o vice-premie do Afeganistão, Abdul Ghani Baradar, de acordo com a Agência Bloomberg, informa o Sputnik Brasil.
Wang Yi declarou ter esperança de que o Talibã demonstre mais abertura e tolerância, além de unir todos os grupos étnicos e facções no país para trabalharem juntos na reconstrução pacífica do país. E protegerem os direitos e interesses de mulheres e crianças.
“A China, que nunca interferiu nos assuntos internos do Afeganistão e nunca buscou ganhos egoístas ou uma esfera de influência, segue firmemente uma política amigável com todo o povo do Afeganistão, e apoia os esforços para restaurar a estabilidade e reconstruir o país”, disse o diplomata chinês, conforme a agência de notícias chinesa Xinhua.
O gigante asiático tem demonstrado interesse em trabalhar com o novo governo afegão, pois uma vez estável, o Afeganistão poderia abrir oportunidades para o desenvolvimento dos substanciais recursos minerais do país e dar um impulso à iniciativa chinesa Um Cinturão, Uma Rota.
Por outro lado, Pequim também tem estado atenta aos esforços do Talibã para controlar os grupos terroristas que ameaçam os interesses chineses no país.
Recíproca Talibã
Baradar, por sua vez, garantiu que o grupo visa fortalecer a cooperação com Pequim em vários campos, e disse que nunca permitirá que ninguém, ou nenhuma força, use o território afegão para prejudicar a China.
Contudo, Raffaello Pantucci, do think tank Instituto Real dos Serviços Unidos (RUSI, na sigla em inglês), disse que a relutância da China em oferecer ajuda humanitária específica sugere que “eles [Pequim] ainda não estão realmente comprometidos […] Pequim está principalmente focada em garantir que haja um governo funcional em Cabul”, disse ele, citado pela Bloomberg.
Elias Jabbour defende diálogo entre China e Afeganistão
Ao Socialismo Criativo, o professor Elias Jabbour, doutor e mestre em geografia pela USP e especialista no processo de desenvolvimento recente da República Popular da China, afirma que a aproximação entre os dois países pode diminuir a dependência chinesa do Mar do Sul da China e facilitar o acesso às commodities africanas.
Para o Afeganistão, o reconhecimento e o apoio econômico também podem ajudar a estabilizar o país.
“Os chineses não vão fazer juízo de valor do que é o Talibã porque isso é uma questão interna do povo afegão. E, aos chineses interessa ter um governo, no mínimo, amistoso porque o Afeganistão faz fronteira com a China. E, durante muito tempo, o Afeganistão abrigou grupos terroristas. Isso é fundamental para a estabilidade regional do Oriente Médio e da Ásia em geral”, avalia o professor ao se referir à atitude do governo chinês.