
Entre em 11 de outubro e 1º de novembro, os casos da Covid-19 medidos pelo acumulado em sete dias cresceram 149% na Europa, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde o dia 27 de setembro, o aumento foi de 313%.
A evolução da pandemia do coronavírus no continente faz com que sejam europeus sete dos 10 países mais afetados nos últimos 14 dias: França, Itália, Reino Unido, Espanha, Polônia, Rússia e Alemanha, nesta ordem. Só Estados Unidos (primeiro), Índia (segundo) e Brasil (sétimo) não pertencem ao continente. Completando a lista dos 20 países mais afetados, outros seis são europeus: Bélgica, Holanda, Ucrânia, República Tcheca, Ucrânia e Romênia.
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A expansão da segunda onda da doença tem sido muito rápida. Em 27 de setembro, levando-se em conta os casos dos sete dias anteriores, o continente era a terceira região mais preocupante do mundo, após a América e do Sul e Sudeste da Ásia. Àquela altura, os casos na Europa chegavam a 21% do total; em 11 de outubro, já eram 31%; em 1º de novembro, superavam 50%, sendo que os europeus são 10% da população mundial.
Europa: epicentro da doença outra vez
“A Europa é outra vez o epicentro da pandemia”, disse então Hans Kluge, diretor do escritório europeu da OMS.
Naquelas declarações, ele advertia de que “as hospitalizações alcançaram níveis que não se viam desde a primavera [durante a primeira onda], com 10 por 100 mil pessoas internadas em um terço dos países”.
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Também avisou que “a mortalidade cresceu 32% na região em uma semana” e que, como os “sistemas de testes não conseguiram manter o ritmo, a positividade supera 5% na maioria dos países”.
Este último indicador mostra a percentagem de análises que detectam um caso positivo. Quanto mais baixo (estima-se que seu limite aceitável seja 5%), significa que há um maior controle epidemiológico do vírus. Agora, o continente cruza os dedos à espera de algum efeito das drásticas medidas adotadas recentemente.
“A pergunta-chave que muitos países estão se fazendo é se deverão ou não decretar um confinamento total”, admite Kluge, embora tanto a OMS como o Centro Europeu de Controle de Doenças acreditem que este deve ser o último recurso, pois, além de danos psicológicos, econômicos e sociais, pode-se agravar a chamada fadiga pandêmica da população, com a decorrente perda da sua cooperação. Além disso, a palavra confinamento (lockdown, em inglês) é interpretada de maneira distinta em cada um dos países.
Confinamento moderado na Espanha
Na Espanha, o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias, Fernando Simón observa que muitos países europeus que dizem estar decretando confinamentos estão, na prática, adotando medidas inclusive menos rigorosas que algumas regiões espanholas, com limitações à mobilidade e fechamento de estabelecimentos, embora as escolas permaneçam abertas, por exemplo.
França, segunda onda “violenta”
A França passou de 306 mil casos registrados entre 6 e 21 de outubro para 670 mil nos 15 dias seguintes. “A segunda onda não é uma abstração: está aqui e é violenta”, advertiu nesta semana o ministro francês da Saúde, Olivier Véran. A taxa de ocupação das UTIs já se eleva a 87,2%, um total de 4.331 pacientes, informou Marc Bassets.
A possibilidade de uma superlotação dos hospitais no país levou à transferência de pacientes de regiões fronteiriças para clínicas alemãs e reabriu o debate sobre a possibilidade de, num futuro próximo, ser preciso discriminar entre doentes.
“Haverá pacientes que não serão admitidos em reanimação. Estamos nos preparando para isso”, declarou Bertrand Guidet, chefe da UTI do hospital Saint-Antoine de Paris, ao jornal Le Monde.
O número de casos também disparou: 60.486 nas 24 horas precedentes à última atualização dos dados publicada na sexta-feira à tarde. Naquele dia, o balanço de mortes – algumas ocorridas em dias anteriores e registradas mais tarde – aumentou em 828, chegando a 39.865 desde o início da pandemia.
A França vive sob um regime de confinamento nacional desde 30 de outubro, mais leve, porém, que o confinamento do primeiro semestre, já que as escolas, as indústrias e a administração pública continuam funcionando.
Covid-19 em descontrole na Itália
A Itália é um caso de país que primeiro pareceu resistir ao vírus, mas onde depois a epidemia se descontrolou, informa Daniel Verdú. É o quarto país do mundo com mais casos nos últimos 14 dias segundo os dados da OMS, 359.153, e o sexto em mortes notificadas, mais de 40 mil.
As cifras de contágios já superam diariamente os 30 mil, e os óbitos se situaram na sexta-feira em 446 (na Espanha, estavam na sexta-feira em 22.516 positivos e 347 falecidos). Os diagnósticos quase quadruplicaram nos últimos 15 dias (390 mil) frente à quinzena anterior (106.863).
Estabilização na Irlanda e Reino Unido
Entre os países que começam a ver tênues raios de luz está a Irlanda, onde a incidência em 14 dias caiu duas semanas depois de ser decretado um confinamento muito similar ao do primeiro semestre, enquanto na Inglaterra, que entrou em um segundo confinamento severo na quinta passada, o vírus continua se espalhando e o número de infectados dobra a cada semana, informa Rafa de Miguel.
Entretanto, o Escritório Nacional de Estatística (ONS) incorporou um pouco de otimismo à situação, com uma estabilização no número de novos casos em torno de 50 mil por dia na última semana, quando já se aplicava uma estratégia regional de restrições que era especialmente dura em algumas zonas do norte da Inglaterra. Com o novo confinamento nacional, o ONS espera que esta estabilização do vírus se consolide.
Contágios recordes na Alemanha
Outro país que poderia se aproximar de uma estabilização é a Alemanha. A segunda onda chegou tarde ao país, mas continua golpeando com força, informa Ana Carbajosa.
No sábado, voltou a ser registrado um recorde de contágios diários, seis dias depois de entrarem em vigor as novas restrições definidas entre o Governo federal e os Estados. Ao todo, o Instituto Robert Koch cifra em 23.399 os casos positivos e em 130 os mortos nas últimas 24 horas. Desde o início da epidemia, foram registrados 642.488 contágios da Covid-19 e 11.226 mortes. A incidência de casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias soma 133.
Lá, no entanto, preocupa o rápido crescimento da ocupação de leitos nas UTIs, assim como a escassez de profissionais para atender os pacientes nessas alas. Mesmo assim, devido à gravidade de situação em países vizinhos, a Alemanha acolhe nos últimos dias pacientes de outros sócios europeus que têm seus serviços sanitários saturados, como a Bélgica.
Desde a semana passada, os bares estão fechados e os restaurantes só funcionam oferecendo comida para viagem. Academias de ginástica, cinemas, museus e qualquer outra atividade cultural fecharam as portas durante o mês de restrições definido pelas autoridades.
Com informações do El País