
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (9) a adesão do Brasil à Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância. O texto consta do Projeto de Decreto Legislativo 861/17, que seguirá para o Senado.
De acordo com a convenção, a discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica e é definida como “qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, com o propósito ou efeito de anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados partes”.
A convenção trata ainda da intolerância, conceituada como “um ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição ou desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por serem diferentes ou contrárias”.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que presidiu a sessão do Plenário, considerou histórica a votação.
“É muito simbólico que a proposta tenha sido aprovada no momento em que o Brasil ganha consciência da necessidade de romper com o racismo estrutural”, disse. “Esse tema é mundial, foi uma resposta do Parlamento na promoção da igualdade racial”, declarou.
Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos votados em dois turnos, com aprovação de pelo menos 3/5 dos integrantes da Câmara (308) e do Senado (49), são considerados equivalentes a emenda constitucional. Nesta tarde, o PDC 861/17 foi aprovado em primeiro turno por 414 votos a 39; em segundo turno, por 417 votos a 42.
Compromissos contra o racismo
Os países que ratificarem a convenção devem se comprometer a prevenir, eliminar, proibir e punir, de acordo com suas normas constitucionais e com as regras da convenção, todos os atos e manifestações de racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância.
A convenção lista 15 situações que se enquadram nesses atos e manifestações, como “qualquer ação repressiva fundamentada em discriminação em vez de basear-se no comportamento da pessoa ou em informações objetivas que identifiquem seu envolvimento em atividades criminosas”.
O documento determina que os países ratificantes devem se comprometer ainda a garantir que seus sistemas políticos e jurídicos “reflitam adequadamente a diversidade de suas sociedades, a fim de atender às necessidades legítimas de todos os setores da população, de acordo com o alcance da convenção”.
Histórico
A convenção resulta de negociações promovidas e iniciadas em 2005 pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Naquele ano, a Missão Permanente do Brasil na OEA apresentou à assembleia geral do órgão o projeto para criação de um grupo de trabalho para elaborar a convenção.
As primeiras propostas surgiram em 2011, na 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada em Durban, na África do Sul. O Brasil foi presidente do grupo de trabalho por quatro vezes.
Em junho de 2013, a convenção foi aprovada durante a 43ª sessão ordinária da OEA, em Antígua, na Guatemala. O texto da convenção chegou à Câmara em 2015, e as comissões temáticas o aprovaram em 2018, na forma de um projeto de decreto legislativo.
Quem votou contra
Veja a lista completa dos 42 votos contrários:
- Adriana Ventura (NOVO-SP)
- Alexis Fonteyne (NOVO-SP)
- Alê Silva (PSL-MG)
- Aline Sleutjes (PSL-PR)
- Bia Kicis (PSL-DF)
- Caroline de Toni (PSL-SC)
- Coronel Tadeu (PSL-SP)
- Carlos Jordy (PSL-RJ)
- Daniel Freitas (PSL-SC)
- Diego Garcia (PODE-PR)
- Dr. Jaziel (PL-CE)
- Dra. Soraya Manato (PSL-ES)
- Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
- Filipe Barros (PSL-PR)
- Gilson Marques (NOVO-SC)
- General Girão (PSL-RN)
- Guiga Peixoto (PSL-SP)
- Heitor Freire (PSL-CE)
- Helio Lopes (PSL-RJ)
- Joice Hasselmann (PSL-SP)
- Junio Amaral (PSL-MG)
- Kim Kataguiri (DEM-SP)
- Lucas Gonzalez (NOVO-MG)
- Luiz P. O.Bragança (PSL-SP)
- Márcio Labre (PSL-RJ)
- Major Fabiana (PSL-RJ)
- Marcel van Hattem (NOVO-RS)
- Nelson Barbudo (PSL-MT)
- Nicoletti (PSL-RR)
- Paulo Azi (DEM-BA)
- Pastor Eurico (PATRIOTA-PE)
- Paula Belmonte (CIDADANIA-DF)
- Paulo Ganime (NOVO-RJ)
- Paulo Martins (PSC-PR)
- Rodrigo Coelho (PSB-SC)
- Roman (PATRIOTA-PR)
- Sanderson (PSL-RS)
- Sargento Fahur (PSD-PR)
- Tiago Mitraud (NOVO-MG)
- Vinicius Poit (NOVO-SP)
- Vitor Hugo (PSL-GO)
- Vinicius Carvalho (REPUBLICANOS-SP)
Com informações da Agência Câmara de Notícias