
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyses sugeriu aos países uma mobilização estratégica e global pelo fornecimento da potencial vacina para Covid-19. Contudo, as incertezas, em especial no Brasil, sobre qual seria o caminho mais curto para garantir acesso rápido à vacina contra doença, tem acirrado a disputa entre países.
Desse modo, a proposta de Tedros encontra nos interesses econômicos e geopolíticos das nações, barreiras que agravam ainda mais a pandemia.
Segundo o Valor, alguns países têm mais recursos para investir de forma isolada. Apostando no “America First”, os EUA de Donald Trump já fez vários contratos de compra com laboratórios diferentes. Focada do desenvolvendo de uma vacina própria, a China também avança. Já os europeu, estão organizando um mecanismo regional de compra do produto.
Brasil
Por aqui, a constante negação da crise sanitária pelo governo de Jair Bolsonaro, que reiteradas vezes minimizou a pandemia, deixa o Brasil na dependência de uma articulação global.
Assim, o país precisará decidir se vale a pena jogar todas as fichas em acordos bilaterais com grupos farmacêuticos que envolvam transferência de tecnologia.
E nem tudo está perdido, mas depende de refinada habilidade diálogo geopolítico. O Brasil ainda pode se juntar ao esforço com outras nações num “pool financeiro” que apostará em nove vacinas.
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A iniciativa, proposta pela OMS, será desenvolvida através do Gavi Aliança (Aliança Global para Vacinas e Imunização). Mas essa escolha não garante a produção da vacina, fruto da cooperação internacional, em território brasileiro.
Cenário incerto
Por outro lado, o “Covid-19 Global Access Facility”, como é chamado o mecanismo do Gavi, lida com um cenário incerta de adesões. Está se aproximando a data para tomada de decisões, sem que haja clareza sobre quantos países vão participar e também sobre o próprio custo da vacina.
No momento, discutem a iniciativa cerca de 80 países emergentes e desenvolvidos, que pagarão pela vacina, e 92 países de renda baixa ou média que vão receber as doses pagas por doadores.
A vacina tem valor estimado em US$ 40 por dose. Depois o preço foi estimado em US$ 20. E na última rodada de apresentação, o Gavi previu preço em torno de US$ 8,70 por dose (pode ficar em quase US$ 11, incluindo bônus de US$ 1,50 pela velocidade na produção e US$ 0,25 de custo operacional por dose).
O Gavi preconiza que os países participantes se comprometam a comprar um volume de doses suficiente para imunizar 20% de sua população.
Compromissos pela descoberta da vacina
A primeira rodada de distribuição garante doses para 3% da população de cada país participante. À medida que as doses forem sendo distribuídas, os países vão ter uma ideia mais clara do preço efetivo, que pode ficar acima ou abaixo dos US$ 8,70
O Brasil, por exemplo, teria de se comprometer com compra de vacinas para 42 milhões de pessoas, totalizando 84 milhões de doses (duas para cada pessoa). Pelo preço previsto hoje, o país deveria pagar US$ 902 milhões (R$ 5 bilhões), metade do valor estimado anteriormente.
O Brasil terá de pagar 15% antecipado, ou seja, US$ 135 milhões (R$ 762 milhões), se aderir à iniciativa global do Gavi.
Segundo o Valor, fontes de Brasília argumentam cautela, pois o volume de dinheiro é importante para o contexto de várias incertezas sobre os termos dos contratos com o Gavi, que precisam ser avaliados de forma mais detida antes do país decidir.
Acordos firmados
O Brasil já assinou acordo envolvendo a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (grupo farmacêutico AstraZeneca), em parceria com a Fiocruz, e também para a chinesa Sinovac, em acordo com o Butantã, em São Paulo. Além disso, a Rússia quer testar e produzir sua vacina Sputnik V no Brasil.
Outros países
Os EUA, que não tem intenção de participar da iniciativa global do Gavi, já gastou ao menos US$ 10,9 bilhões com encomendadas a laboratórios como Moderna, Johnson & Johnson, Novavax, Pfizer, Sanofi e AstraZeneca.
A União Européia assinou com AstraZeneca acordo para comprar 300 milhões de doses da vacina que o laboratório tenta desenvolver.
França, Alemanha, Itália e Holanda também já se entenderam diretamente com AstraZeneca para o fornecimento acelerado de doses. Um fundo europeu de € 2,4 bilhões foi constituído para financiar as compras.
Enquanto isso, a doença segue matando milhares de pessoas por dia. Dados atualizados nas últimas 13 horas mostram um total de 792.475 mortes, e 22.589.017 casos confirmados no mundo.
Com informações do Valor