
Em jogada desesperada nesta segunda-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou reforma ministerial que tenta ao mesmo tempo ceder poder ao Centrão e aumentar sua influência nas Forças Armadas, o que pode gerar uma crise militar.
Durante o pior momento da pandemia, que evidenciou o fracasso da gestão do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, e após o presidente não ceder a pasta central da crise ao Centrão, a pressão interna para uma mudança no governo aumentou. Tudo isso se une à queda da popularidade de Bolsonaro e a volta do seu inimigo número um, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao xadrez político.
A saída de Ernesto Araújo já era esperada após ele acumular conflitos dentro e fora do Planalto e gerir de forma caótica as relações internacionais durante a negociação por vacinas contra a Covid-19. Com último ato teatral para o seu público ideológico, o agora ex-ministro saiu sem resistir e será substituído pelo embaixador Carlos Alberto Franco França, diplomata de carreira que estava na assessoria especial da Presidência da República.
A demissão do chanceler parece ser uma mudança de posicionamento para agradar o Centrão e a escolha da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para Secretaria do Governo confirma a aproximação com o bloco. Além disso, soluciona os conflitos do Congresso com Luiz Eduardo Ramos, que se desloca para a Casa Civil.
Fiel escudeiro de Bolsonaro, André Mendonça também aceitou ser reposicionado no jogo pelo presidente, abandonando o Ministério da Justiça e voltando para a Advocacia-Geral da União (AGU). Em seu lugar, o mandatário escolheu o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. E é nesse ponto que a crise com os militares começa a ser traçada.
A crise militar
Vendo os policias rodoviários protestando contra si Brasil a fora, Bolsonaro fez um movimento há muito tempo esperado e colocou a bancada da bala na Justiça. Com isso, o presidente fortalece a política pró-armamentos e fideliza o apoio com as corporações policiais. Por outro lado, a escolha azeda relação com as Forças Armadas, já que o discurso armamentista anda lado a lado com o temor pelo golpe.
A demissão abrupta de Fernando Azevedo do Ministério da Defesa reflete a polarização causada por Bolsonaro dentro do Exército. Em busca de apoio incondicional da instituição que deve servir somente ao Estado e não ao presidente, o mandatário vem causando um racha dentro do setor, agora separados entre bolsonaristas e aqueles que tentam camuflar as Forças Armadas diante do discurso ideológico do governo.
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As benesses frequentes à categoria vinham colocando panos quentes na crise, mas agora esse equilíbrio está nas mãos do general Walter Souza Braga Netto, que não tem fama de conciliador.
Diante dessa crise, o alto escalão escalão do Exército volta a se reunir nesta terça-feira (30) para discutir prováveis nomes para ocupar o comando no lugar de Edson Leal Pujol, considerado na corda-bamba. A ideia é montar uma lista com candidatos, atuais generais quatro estrelas, para submetê-la à Presidência da República
Desde que tomou a decisão de trocar o chefe do Exército, na semana passada, o presidente da República tem dito a auxiliares que quer alguém que esteja disposto a “botar o pé na porta” por ele, caso seja necessário.
No entanto, o candidato mais forte é o general Marco Antônio Freire Gomes, de 63 anos, atual Comandante Militar do Nordeste e ex-secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional no governo de Michel Temer. Há 42 anos no Exército, o militar é descrito como um oficial de perfil tranquilo e moderado.
Socialistas comentam reforma
O presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, afirmou em postagem nas redes sociais que reforma ministerial “despreza o óbvio”: mais efetividade contra a pandemia de Covid-19.
O deputado federal Tadeu Alencar (PSB-PE) também afirmou que o troca-troca ainda mantém o país isolado, sem vacina e com milhões de brasileiros sofrendo coma crise econômica e social.
“O problema é o presidente”, destacou o deputado federal e líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ). Para o parlamentar, essas mudanças não serão o suficiente para manter Bolsonaro no poder diante da péssima gestão.
Com informações do jornal O Globo e Folha de S. Paulo