
O presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL) não anda nada bem. A coisa chegou a tal ponto que assessores próximos temem que ele não consiga terminar o mandato.
O seu estado psicológico, que pessoas do seu entorno descrevem como “apático” ou “depressivo”, é tal que ele, na pratica, está afastado da presidência desde que perdeu, no dia 30 de outubro, para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Live tradicional
Nas duas últimas semanas, Bolsonaro não fez nem as suas tradicionais transmissões ao vivo de quinta-feira, que ele manteve até mesmo quando viajou para o exterior.
A estratégia tem sido considerada um erro por pessoas próximas. Lideranças de seu partido, o PL, acham que ele deve sair do ostracismo se quiser assumir liderança da oposição.
De acordo com informações do colunista Guilherme Amado, no Metrópoles, no Planalto, acredita-se que, passado o 15 de novembro, os eleitores do presidente passarão a cobrar sua presença ou pronunciamento público.
Leia também:
Paulo Pimenta
O deputado federal Paulo Pimenta (PT) afirma ter relatos de dentro do governo que confirmam as informações de Amado. “Ele está absolutamente abalado emocionalmente e psicologicamente”, ratificou. “Tem uma mesa em que eles fazem reuniões, inclusive das bancadas, que ele tentou fazer duas ou três reuniões. Ele senta em um canto da mesa, os filhos quando estão participam, bota as mãos e deita a cabeça em cima e fica meia hora chorando e todos em volta ficam parados assistindo”, descreve.
O deputado diz ainda que tentaram, “dois ou três dias depois fazer outra reunião, mas não deu. Ele sentou, embargou a voz, baixou a cabeça, chorou, chorou desesperado. Nunca mais fez uma reunião, não fala com ninguém, alterna o humor e abandonou completamente qualquer liturgia e qualquer função relativa ao cargo. A rigor estamos sem presidente”, encerrou.
Mourão manda Bolsonaro “emergir do retiro espiritual”
Escanteado como vice-presidente, o senador eleito general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) – que ainda segue como “02” do governo -, voltou a ridicularizar Jair Bolsonaro (PL), que tem se mantido recluso e apático após a derrota para Lula (PT) na disputa presidencial.
Em entrevista ao Valor Econômico, Mourão mandou o presidente “emergir do retiro espiritual dele”, em relação à reclusão pós-eleitoral, e já fala no nome do governador eleito de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), para substituir Bolsonaro como candidato da direita em 2026.
Após falar dos planos de “em 2024 abraçar um bom número de prefeituras, base do sistema político, e ganhar a eleição em 2026”, Mourão foi indagado: “Ganhar com Bolsonaro?”.
“Com o Bolsonaro ou outro nome. Temos o Tarcísio [de Freitas], que ganhou uma eleição em São Paulo que ninguém esperava que ele ganhasse”, afirmou.
Mourão acredita, no entanto, que Bolsonaro deveria liderar a “luta da direita” e cobrou que o presidente saia do casulo.
“O presidente Bolsonaro, quando emergir do retiro espiritual dele, vai compreender que ganhou esse capital. Acho que ele tem que se posicionar no espectro político, trabalhar politicamente. Vai ser a primeira vez desde 1989 que ele não tem mandato. São 33 anos, é uma vida. É ele entender que agora ele terá uma posição dentro do PL, de presidente de honra. Ou seja, aqui em Brasília, articulando, tem todo o capital para voltar muito bem em 2026. Desde que ele saiba explorar bem isso aí”, afirmou.
Mourão ainda avisou que não vai assumir o papel do presidente para entregar a faixa presidencial a Lula – “Eu não posso botar aquela faixa, tirar e entregar. Então, se é para dobrar, bonitinho, e entregar para o Lula, pô, qualquer um pode ir ali e entregar” – e afirmou que Bolsonaro perdeu a eleição por causa do negacionismo na pandemia.
“O erro foi no discurso. O cara comprava vacina e falava mal de vacina, pô. Esse discurso aí não foi bom. Isso que prejudicou o presidente”.
Alexandre de Moraes
Mourão ainda atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) e mirou principalmente o ministro Alexandre de Moraes.
“Vejo que a nossa Suprema Corte avançou além dos limites da cadeira dela, com decisões que não estão de acordo com o devido processo legal. Tem que haver um momento em que nossos ministros entendam que estão ultrapassando. Esse inquérito das Fake News vem desde 2020, não tem prazo, não tem objeto, o Alexandre de Moraes é investigador, denunciador, juiz, é o ofendido. Isso não está correto. É hora de haver uma conversa, e o Senado, que é a Casa que tem a responsabilidade, colocar um freio nisso aí”, disse o vice-presidente, que não descartou um pedido de impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Impeachment é a solução mais drástica. Acho que a gente pode começar com uma pressão, de mudança. Por exemplo, colocar mandato. É importante que tenham mandato, afinal eles não foram eleitos para nada e estão tomando decisões como se tivessem sido eleitos”.