
“Tem idiota nas redes sociais, na imprensa, ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe! Não tem para vender no mundo!”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada. No entanto, a escassez de vacinas contra a Covid-19 ocorre após o governo federal rejeitar no ano passado três ofertas da farmacêutica Pfizer, deixando de obter ao menos três milhões de doses, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
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O anúncio feito pelo Ministério da Saúde nesta última semana de que pretende comprar doses da vacina da empresa norte-americana ocorreu quase sete meses após a primeira oferta apresentada, que previa que as primeiras entregas fossem feitas ainda em dezembro de 2020. Não há qualquer contrato assinado ainda.
As doses, que seriam entregas em três levas até fevereiro, equivalem a cerca de 20% das já distribuídas no país até agora. Após os atrasos, os membros do ministério tentam negociar com a empresa entregas a partir de maio.
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Não foi apenas a Pfizer que recebeu negativas do governo. Antes de fechar com o Butantan, em janeiro, o governo federal recebeu ao menos três ofertas do Instituto Butantan para compra da Coronavac, segundo ofícios divulgados pelo laboratório.
Governo Bolsonaro também dificultou a compra de outras vacinas
Além disso, embora o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, tenha afirmado recentemente que encontrou dificuldade em negociações com o consórcio Covax Facility, da Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas ligadas às conversas apontam que foi da pasta a decisão de adquirir doses para apenas 10% da população por meio da iniciativa e não os 20% que poderia ter optado de acordo com documentos.
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Apenas quando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) anunciou o plano para iniciar a vacinação em São Paulo no dia 25 de janeiro com as doses da Coronavac, envasadas pelo Instituto Butantan, que o governo Bolsonaro iniciou uma reação na tentativa de contrapor o adversário político do presidente.
Em audiência no Senado na quinta-feira (4), o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, disse que o ministério faz discussões sobre vacinas desde abril de 2020, mas que óbices “técnicos” e “legais” impediram fechar acordos mais cedo.
“Com relação à Pfizer e à Janssen, nós tínhamos óbices legais, como também com o Butantan.”
Elcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde
Com informações da Folha de S. Paulo