
O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) defende unidade entre os representantes dos setores produtivos para derrotar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e salvar a economia.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, sob efeito da pandemia, o Brasil perdeu quase 600 mil empregadores no intervalo de dois anos.
O parlamentar foi às redes sociais denunciar o encerramento precoce de negócios em todos os setores no país e a perda de empregos. “Parar o ciclo destrutivo do governo Bolsonaro é pauta para unir todos os setores”, defendeu.
O fechamento dos negócios preocupa especialistas em razão do efeito multiplicador no mercado de trabalho: quando uma empresa fecha as portas, a renda de mais de uma pessoa (chefe e funcionários) é colocada em risco.
No segundo trimestre de 2019, antes da crise sanitária, o país tinha 4,369 milhões de empregadores. Foi a maior marca para o intervalo de abril a junho na série histórica, com dados a partir de 2012. A questão é que, devido à pandemia, o número passou a cair em 2020, até atingir 3,788 milhões no segundo trimestre de 2021.
O resultado mais recente, se comparado a igual período de 2019, corresponde a uma baixa de 13,3% —ou 581,3 mil empregadores a menos em dois anos.
A redução em termos percentuais perdeu apenas para a registrada na categoria dos trabalhadores domésticos, que foi de 18,3%.
A recuperação dos empregadores é considerada fundamental para a abertura de novos postos de trabalho no país. Entre o segundo trimestre de 2019 e igual período de 2021, o número de empregados no setor privado caiu 10,1%, de 44,7 milhões para 40,2 milhões. A redução foi de 4,5 milhões de vagas.
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“Sabemos o quão burocrática é a tarefa de se estabelecer como empregador no país, porque existem entraves, e vimos uma queda no grupo relacionada à pandemia”, afirma Sergio Firpo, professor de Economia do Insper. “O ponto é que, ao deixar sua atividade, o empregador deixa de empregar alguém. Isso tem um efeito multiplicador na renda dele e de outros trabalhadores”, diz.
Especialistas ressaltam que, em períodos de crise, negócios menores costumam ser os mais prejudicados. Na comparação com grandes companhias, empresas com menos funcionários tendem a apresentar uma reserva financeira limitada para resistir a choques como o da Covid-19, e o acesso a crédito também fica mais difícil.
Os dados do Pnad mostram que os empreendedores de menor porte, mais numerosos no país, puxaram a perda de negócios durante a pandemia. No segundo trimestre de 2019, o Brasil tinha 3,198 milhões de empregadores com um a cinco empregados. Eles representavam 73,2% do total à época. Em igual período de 2021, o número caiu para 2,731 milhões (72,1% do total).
Isso significa que, dos 581,3 mil empregadores perdidos no intervalo, 467,4 mil (ou 80,4%) tinham de um a cinco empregados.
“Há um efeito dominó. O fechamento de uma empresa acaba se refletindo não apenas no empregador, mas também nas outras pessoas que dependem daquele negócio”, afirma Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria IDados.
Especialistas ressaltam que a retomada no número de empregadores – que, por sua vez, puxará a de empregados – depende de uma reação mais firme da economia como um todo. A tentativa de recuperação, contudo, é ameaçada por riscos como a escalada da inflação e a crise política.
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Diante desse quadro, a criação de medidas que facilitem o acesso de empreendedores a crédito é um caminho que precisa ser pensado no país, sugerem especialistas. “Questões relacionadas à concessão de microcrédito são muito importantes. Com as taxas de juros voltando a subir, as coisas complicam para o pequeno empregador”, menciona Firpo.
Ottoni vai na mesma linha. “A questão do crédito é relevante. Não é simplesmente dar dinheiro para os microempreendedores, mas também pensar em políticas que acompanhem o desenvolvimento dos negócios. Quando se fala em políticas públicas, é preciso analisar o que existe de evidência empírica.”
Antes da pandemia, entre 2017 e 2019, o número de empregadores vinha em alta no Brasil. No segundo trimestre de 2017, eram 4,173 milhões nessa condição. O montante avançou 4,7% (mais 196 mil) para chegar aos 4,369 milhões do segundo trimestre de 2019.
Com informações da Folha de S.Paulo