
Na avaliação de Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa (2016-18) e da Segurança Pública (2018) do governo Michel Temer (MDB), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fracassou em sua tentativa de alinhar as Forças Armadas a seu projeto de poder. “Foi o dia do fico, no caso, ficar com a Constituição, com a democracia”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo.
Ele se refere à demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e dos três comandantes das Forças Armadas , por discordar da exigência de Bolsonaro de maior apoio político das tropas ao combate às medidas de restrição do contágio da Covid-19. Após um dia de tensão, acabaram escolhidos para as Forças nomes acertados com os Altos-Comandos. “As escolhas são a fotografia do fracasso de tentativa de politização. Os comandantes não se disporão a qualquer ideia autoritária”, disse.
Para Jungmann, o presidente está perdendo a capacidade de governar. O ex-ministro alerta para o risco de instabilidade social devido à gravidade da pandemia.
“Vivemos uma crise política, sanitária e econômica, centenas de milhares pagaram com a vida. Isso é inédito. Se a política não resolver equacionar a crise, ela vai acabar engolida. Em outros impasses, os impeachments de Collor e Dilma, o mensalão, achamos saídas.”
Raul Jungmann
Sobre a dança das cadeiras realizada no dia em que Azevedo pediu demissão, Jugmann diz estar particularmente preocupado com a instalação da bancada da bala no Ministério da Justiça. “Quando o presidente transita o tema das armas da segurança pública para a política e a ideologia, dizendo que tem de armar a população, ele propõe a quebra do monopólio da violência do Estado”, ressaltou.
Confusão no orçamento 2021
Ainda de acordo com Jungmann, um dos exemplos de que Bolsonaro está perdendo a capacidade de governar é confusão no Orçamento de 2021. “O Orçamento enviado não é administrável. Isso aponta para a precariedade da articulação política, a pouca governabilidade”, disse.
O problema da vez é o medo de que as manobras feitas pelo relator da matéria, senador Márcio Bittar (MDB-AC), para aumentar, sobretudo, o valor das emendas parlamentares possa levar ao impeachment de Bolsonaro.
Centrão no jogo
O ex-ministro destaca que Bolsonaro se elegeu com o discurso de antipolítica e seus recentes acordo com o Centrão mostram que seu posicionamento está enfraquecido.
“A posição dele é enfraquecida cada vez mais. Há o inquérito das fake news, chegando a atores do bolsonarismo, os processos sobre sua família, a pandemia. Esse ano está perdido na economia. Ele busca se reforçar cedendo postos para o centrão. Mas é preciso lembrar que o centrão é pragmático e tem um projeto autônomo.”