
Na segunda-feira (30), os presidentes Jair Bolsonaro, do Brasil, e Alberto Fernández, da Argentina, se falaram pela primeira vez desde que o argentino foi eleito, em outubro do ano passado. A conversa, feita por videoconferência, foi anunciada pela Casa Rosada, em nota divulgada no domingo, e não constava na agenda do brasileiro, que tem um histórico de atritos com Fernández.
Bolsonaro falou do Palácio da Alvorada, acompanhado do chanceler, Ernesto Araújo, e do secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha. Quem também participou da conversa, que durou cerca de 45 minutos, foi o ex-presidente José Sarney – o pretexto da ligação foi a celebração dos 35 anos do encontro histórico entre Sarney e Raúl Alfonsín, então presidente da Argentina, em Foz do Iguaçu, que marcou a integração entre os dois países
Bolsonaro iniciou a conversa prestando condolências pela morte de Diego Armando Maradona, no dia 25, a quem tratou como “grande atleta”. O craque, que era próximo de figuras de esquerda, como o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez, é considerado o maior ídolo do esporte argentino.
Bolsonaro foi contra Fernández
A reunião pôs fim a um longo período de afastamento entre os dois países, iniciado com a eleição do argentino. A relação ficou estremecida por dois motivos: Bolsonaro apoiou a reeleição de Maurício Macri, derrotado nas urnas, e pela visita que Fernández fez ao ex-presidente Lula, ainda durante a campanha. Na ocasião, o petista ainda estava preso em Curitiba e o gesto foi considerado uma afronta pelo presidente brasileiro.
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Na conversa desta segunda, Fernández defendeu deixar as diferenças de lado e trabalhar com o Brasil em um acordo ambiental. “Seguimos avançando em matéria de segurança e Forças Armadas, e temos de trabalhar juntos no tema ambiental, que é um assunto que nos preocupa muito. Devemos fazer um acordo de preservação”, afirmou o argentino – o meio ambiente é um ponto-chave para conseguir concretizar um tratado de livre-comércio entre o Mercosul e União Europeia.
O pacto, que havia avançado no governo Bolsonaro, sofreu importantes derrotas em Parlamentos de países europeus e parece ter naufragado de vez depois da resposta do governo brasileiro ao desmatamento na Amazônia e no Pantanal. Recentemente, ele acusou outros países pela extração ilegal de madeira no Brasil e rejeitou o rótulo de “inimigo do meio ambiente”.
Auxiliares do Palácio do Planalto afirmaram que o balanço da conversa foi positivo e, mesmo quando a questão ambiental foi abordada, o clima amistoso permaneceu. Bolsonaro costuma reagir a cobranças de outros países e, recentemente, sugeriu até mesmo recorrer a “pólvora” após o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, sugerir retaliações caso não haja medidas efetivas de proteção à Floresta Amazônica.
O presidente brasileiro reforçou que “o Mercosul é o principal pilar de integração” regional, aproveitando para pedir a criação de “mecanismos mais ágeis e menos burocráticos” no bloco. Bolsonaro expressou ainda interesse de avançar em áreas de interesse comum, “especialmente o turismo”.
O nascimento de uma aliança
A relação entre Brasil e Argentina sempre foi conturbada. Na maior parte da história, os vizinhos se viram com desconfiança, uma animosidade que vinha desde o período colonial e foi acirrada durante as ditaduras militares, nos anos 60. A aproximação só ocorreu nos anos 70, com a assinatura do Acordo Tripartite, de 1979, entre Brasil, Argentina e Paraguai, que pôs fim à maior crise diplomática do pós-guerra e regulou o uso das usinas de Itaipu e Yacyretá.
A redemocratização consolidou de vez a aproximação, com o encontro entre os presidentes José Sarney, do Brasil, e Raúl Alfonsín, da Argentina, em Foz do Iguaçu, no dia 30 de novembro de 1985. A reunião rendeu a Ata de Iguaçu, que criou uma comissão mista para promover a integração econômica e comercial entre os dois vizinhos, a base para o Mercosul. Foi para celebrar a aliança que, em 2018, se estabeleceu o Dia da Amizade Argentino-brasileiro.
Com informações do Estadão