
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, ou seja, mais de quatro por dia, de acordo com o relatório da organização não-governamental Artigo-19, presente em nove países. O documento também aponta ataques de Bolsonaro à imprensa.
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As informações fazem parte do “Relatório Global de Expressão 2021”, com dados de 161 países, produzido pela ONG que atua na defesa da liberdade de expressão e acesso à informação. A Artigo 19 também fez críticas à falta de transparência nos números da pandemia em alguns países, entre eles o Brasil.
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Entre os casos de desinformação veiculada pelo próprio Bolsonaro está a propagação da ideia de que o Supremo Tribunal Federal (STF) tirou poderes do presidente, responsável por tomar decisões para o combate à pandemia.
Devido à propagação da mentira, o STF publicou em redes sociais uma campanha informando que não apenas não proibiu o presidente, como também decidiu que União, Estados e prefeituras municipais deveria agir conjuntamente contra a propagação da infecção.
Desde que a Suprema Corte decidiu no ano passado que governadores e prefeitos tinham autonomia para implementar políticas de enfrentamento à crise sanitária, o presidente tem dito que ficou impossibilitado de agir para controlar a pandemia. No último fim de semana, ao conversar com apoiadores, Bolsonaro afirmou que “se estivesse coordenando a pandemia não teria morrido tanta gente”.
Relatório mostra Brasil pior com Bolsonaro
O relatório diz que o Brasil passa por uma queda no nível de liberdade de expressão: o país obteve apenas 52 pontos numa escala que vai de 0 a 100. O índice é o mais baixo registrado pelo Brasil desde 2010, quando começou a ser calculado com critérios próprios pela ONG.
Mais ainda, o documento afirma que as declarações falsas ou enganosas de Bolsonaro contribuíram para a aumentar o número de casos de Covid-19.
“Em outros casos, a desinformação vem de indivíduos que ocupam posições relevantes — até mesmo chefes de governo, como Jair Bolsonaro — geralmente por meio de contas pessoais, em vez de oficiais, nas redes sociais. Esses indivíduos isolados podem ter um grande impacto na disseminação da desinformação. O presidente dos Estados Unidos [Donald Trump, que estava no cargo em 2020] foi provavelmente o maior impulsionador da ‘infodemia’ de informações errôneas sobre a COVID-19 em língua inglesa”, diz trecho do relatório.
O documento destacou algumas falas de Bolsonaro, como chamar a Covid-19 de “gripezinha”, enquanto “promove discursos antivacinas e anti-isolamento, piorando as taxas de infecção e causando uma crise de informação com discursos altamente polarizados”. Desde janeiro de 2019, quando assumiu o cargo e ainda não havia pandemia, Bolsonaro fez 2.187 declarações falsas ou distorcidas.
O problema da desinformação não se limitou ao Brasil, tendo se espalhado rapidamente nas redes sociais e aplicativos de mensagens de vários cantos do planeta. O tipo mais perigoso, diz o relatório, “tem sido as teorias de conspiração sobre minorias étnicas que espalham a doença e o discurso de ódio, traduzidas em discriminação e violência no mundo real, remédios caseiros espúrios para a prevenção ou cura do vírus e propaganda — tanto por autoridades políticas nacionais quanto estrangeiras”.
Com informações do jornal O Globo