
Os próximos dias serão cruciais para sabermos se Jair Bolsonaro (sem partido) continuará no cargo. O isolamento do presidente cresceu de forma exponencial nesta semana e a crise sanitária do Covid-19 coloca cada vez mais dúvida sobre sua capacidade de conduzir o país neste momento de travessia.
A aposta radical do presidente, exposta mais uma vez no discurso raivoso e que foi alvo de panelaços, tem um erro de origem: se é tão evidente que a economia precisa ser preservada, a vida das pessoas mais ainda, e não cabe ao presidente minimizar nem um, nem outro. Ponto.
Há aspectos ainda imponderáveis na epidemia do novo coronavírus que ainda não se sabe, por exemplo, de como será a evolução da doença num país tropical como o Brasil.
Por outro lado, o debate a cerca da quarentena é realizado no mundo inteiro, e aqui o mandatário brasileiro o faz carente de dados ou embasamentos científicos que corroborem suas teses. A proposta de isolamento vertical foi testada na Itália e rejeitada posteriormente, após crescer número de infectados.
Bolsonaro é candidato à reeleição, assim como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que busca se descolar do bolsonarismo para, lá na frente apresentar-se como postulante. É esse objetivo em comum que tem intensificado a briga entre os dois e que protagonizou um bate-boca memorável entre eles.
A aposta do terror econômico da crise, feito por Bolsonaro, em detrimento das recomendações internacionais de saúde e isolamento, defendidas por governadores, formam o campo de batalha e debate que será usado por ambos lá na frente, quando estivermos superado a fase crítica da crise.
E se a incerteza perdurar?
Na forma que se desenha essa incerteza, o impasse no país tenderia a se resolver, a um primeiro momento, com a renúncia de Bolsonaro, tendo em vista que o impeachment é demorado e traumático.
A reunião entre os 27 governadores desta quarta-feira (25) foi a saída encontrada para que a crise não fosse ampliada e que, neste momento, fosse apresentadas demandas de verniz técnico e discursos ponderados.
A ressaltar as propostas contidas no Consórcio Nordeste, iniciativa com finalidade de tentar proteger trabalhadores formais e informais prejudicados pela pandemia.
Desde que, de forma irresponsável, Bolsonaro correu para os braços do povo que pedia fechamento do Congresso e do STF, quebrando quarentena, em Brasília é certo que ele perdeu qualquer capacidade de interlocução com parlamentares, e agora com governadores.
Isolado, a dúvida que está posta: no pós-crise Bolsonaro ainda terá condições de se manter presidente? O tempo dirá.