
Liderados pelo presidente Jair Bolsonaro, que usou o atraso na apuração dos votos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar a confiabilidade das urnas eletrônicas, parlamentares bolsonaristas voltaram a defender a impressão do voto para permitir a recontagem, ideia que foi rechaçada pela oposição no Congresso.
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF) alimentaram nas redes sociais especulações de que o sistema brasileiro de votação não é confiável.
Sem apresentarem provas, repetiram a estratégia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de não reconhecer a derrota para manter sua base eleitoral mobilizada, diz o Valor Econômico.
Sem provas, muita especulação
Kicis, por exemplo, replicou comentário de outro usuário no Twitter que acusou o TSE de fraudar a eleição simplesmente porque Guilherme Boulos (PSOL), que disputará o segundo turno para prefeito de São Paulo, teria mais votos em uma única cidade este ano do que ele teve em todo o Brasil quando concorreu a presidente em 2018.
“É de se estranhar”, concordou ela.
A deputada é autora de uma proposta de emenda constitucional (PEC) para tornar obrigatória a impressão do voto, para permitir a recontagem. O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em novembro de 2019, mas depende da criação de uma comissão especial para analisá-la. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não deu sinais de que fará isso e a decisão deve ficar com o futuro presidente, que será eleito em fevereiro.
O líder do PT na Câmara, deputado Ênio Verri (PR), defendeu que o atraso não justifica a volta do voto impresso. “Houve uma sobrecarga, um detalhe, e um atraso que não foi tão grande assim. O pessoal do Bolsonaro precisa de uma desculpa, até porque perdeu de lavada”, afirmou.
“Não acredito que haja dúvidas sobre a lisura do resultado do pleito”, concordou o líder do PSB, deputado Alessandro Molon (RJ).
Concentração do sistema
Para a deputada Perpétua Almeida (AC), líder do PCdoB, o erro foi o TSE concentrar a apuração dos votos de todo o país. “Mas não tivemos problemas nas urnas nem no sistema de contabilização.”
Maia disse que é a favor do voto impresso, mas que o atraso na apuração não pode servir para questionar a confiabilidade da urna eletrônica. “A gente não pode, de forma nenhuma, transformar um problema num computador numa dúvida em relação ao nosso sistema”, afirmou.
Voto impresso
O Congresso já aprovou a impressão do voto em 2015, mas a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) vetou porque trocar as urnas por um modelo com impressoras custaria R$ 2 bilhões. O Congresso derrubou o veto, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou por suspender a lei por liminar e Bolsonaro aproveitou para elaborar teorias conspiratórias durante a eleição presidencial.
O presidente voltou ontem a afirmar que o Brasil é o único país a usar urnas eletrônicas — pelo menos outros 23 países, entretanto, usam o sistema. Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que a dúvida “sempre vai permanecer” se “não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições”.
Com informações do Valor Econômico