
O novo lançamento, com edição atualizada, do livro ‘Os Candomblés de São Paulo’, do escritor Reginaldo Prandi, traz uma denúncia grave: as religiões de matriz africanas voltaram a sofrer intensa perseguição por parte de grupos cristãos radicais e politicamente atrelados ao governo Bolsonaro.
Atualizado 30 anos após a primeira edição, a obra denuncia que a política do governo para o setor é de destruição das instituições criadas pela Constituição de 1988.
A previsão constitucional do estado laico está sendo ameaçada, segundo o livro.
“O governo negacionista de Jair Bolsonaro, levado pelo capitão das 100 mil, 200 mil, sabe-se lá quantas mais dezenas de mil vidas eliminadas pela Covid-19″ não se importa com as mazelas e o roubo de direitos que afligem as mulheres, os negros, os pobres, os indígenas, os gays. […] Não liga para a degradação do meio ambiente, nem se dá ao respeito diante do desmonte da cultura, da memória e da cidadania no país. Vai se interessar por religião de preto macumbeiro?”.
Sérgio Camargo e o boicote à cultura africana
O exemplo de perseguição mais objetivo citado pelo escritor é a atuação do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que trabalha para reafirmar os preconceitos contra a cultura africana e sua matriz religiosa.
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Para Reginaldo Prandi, a intolerância está baseada na Reforma Protestante que “pregava a abolição total do politeísmo”. E acrescenta: O catolicismo tinha um lado politeísta que herda das antigas religiões e é expressa no culto aos santos. O evangélico não aceita nem mesmo o da Nossa Senhora, que vê apenas como uma mulher virtuosa.”
Seguidores de religiões afrobrasileiras são mais libertários e com posicionamento político à esquerda do que a média da população, diz o pesquisador. Segundo entrevista que ele concedeu ao jornal Folha de S. Paulo, a crença em vários deuses — os orixás— tem seu papel nisso.
“A religião conta com uma ideologia politeísta muito inclusiva. Não existe a ideia de eliminar o outro. Serão os primeiros a convidar [o evangélico] para os toques dos orixás, mas os últimos a persegui-lo com um cabo de vassoura.”
Com informações da Folha de S. Paulo
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