
Dessa vez, diferentemente de 2020, quando levou o PT a não fazer alianças nas capitais, Lula está certo. É absolutamente natural que um partido do tamanho e da importância do PT tenha candidatura a Presidente da República. E que não espere ou dependa da candidatura do próprio Lula, como fez em 2018.
A candidatura de Fernando Haddad não interdita o debate sobre frentes de esquerda, ampla, ou centro-esquerda. Tão pouco impede a discussão de um programa comum para a esquerda, como quer Guilherme Boulos.
Pelo contrário, a candidatura de Haddad estimula o debate programático, na medida em que ele como candidato terá que explicitar suas propostas para o Brasil, com já fazem Ciro Gomes, do PDT, e Flavio Dino, do PCdoB. E como deveriam fazer Boulos, do PSOL, e quem mais se disponha a participar do processo eleitoral em 2022.
E não se confunda a necessidade imperiosa de constituir uma Frente Ampla democrática para barrar a ascensão do fascismo representado pelo governo de Bolsonaro com o debate político e eleitoral.
Essa frente tem único ponto em comum: a defesa da democracia e do estado de direito democrático. Essa frente, portanto, comporta vários projetos políticos (desenvolvimentistas, neoliberais, socialistas, comunistas), visando a defesa da democracia. Muito, mas muito dificilmente mesmo, produziria uma candidatura para o primeiro turno da eleição de 2022. Pode, sim, se trabalhada competente e generosamente, viabilizar uma aliança para o segundo turno caso o inimigo comum seja Bolsonaro.
Modestamente, da planície onde me encontro, defenderei que o meu partido, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), tenha uma candidatura própria que vocalize a nossa contribuição para um Projeto Nacional de Desenvolvimento, através da teses para o novo programa do partido que estão sendo discutidas na Autorreforma do PSB.
Teses que colocam a Economia Criativa como eixo estratégico para um novo desenvolvimento, que nos insira soberanamente, enquanto produtores e não como meros consumidores, na nova economia mundial do conhecimento. Que valorizem nosso ativos competitivos como a Amazônia 4.0, a Amazônia Azul, a nossa matriz energética e a própria diversidade cultural de nosso povo.
Teses com a revolução criativa na educação que começa por propor que o ensino fundamental seja todo ele público e gratuito, como forma de enfrentar a desigualdade social pela base.
Aliás, o Diretório Nacional do PSB já aprovou, por significativa unanimidade (80 votos a zero), o lançamento de uma candidatura própria para presidente da República em 2022.
*Domingos Leonelli é ex-deputado federal, atualmente presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo